domingo, 6 de maio de 2007

Trecho

Mais um pouco de Fernando Pessoa/Alberto Caeiro. Desta vez, apenas um trecho, mas um belo trecho.

"Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
(...)"

2 comentários:

Rafael Lanzetti disse...

Marcos, parabéns! Seus textos são muito bons. E vou te dizer: foi você que me inspirou a fazer meu blog, camarada! Tá vendo, seu blog já deu cria! haha

Um abraço,
Lanzetti

AR disse...

O Guardador de Rebanhos! Amo!