domingo, 20 de janeiro de 2008

Tempo



Se desejarmos, tudo pode ser resolvido pela expressão é uma questão de tempo. Problemas sérios, problemas pequenos, problemas que nos trazem e problemas que buscamos: é apenas uma questão de tempo. Brigas entre casais, discussões homéricas com os melhores amigos, time na lanterna já no começo do campeonato. Questão de tempo.

Só com o tempo pode-se perceber se as juras de amor eram verdadeiras, se as promessas eram falsas, se os acordos são firmes ou quebradiços. O tempo cura aquelas feridas que hoje parecem eternas e impossíveis de esquecer, e as que ele não cura ao menos desvia do centro das atenções. Talvez seja exatamente isso que a tal “questão de tempo” prove. Tempo que voa ou se arrasta, não importa. Só o tempo mede a capacidade humana de esquecer, e a humanidade nunca se esquece de medir o tempo.

Mede-se o tempo para contar, para estimar, para deixar algo para trás. Horas tristes demoram a passar porque o tempo reage contrariamente à força que lhe impomos: quanto mais desejamos deixar um momento para trás, mais este se atém ao presente, relutante em virar passado. Funerais longos, expedientes que não chegam ao fim, corações partidos que sentem os dias se transformando em anos. Contudo, inversamente proporcional, a alegria atrai o futuro como um poderoso magneto, em dias felizes que anoitecem inexplicavelmente logo após você dar a mão à pessoa amada, ou um “olá” que parece ser instantaneamente seguido de “tenha bons sonhos, meu anjo”, sem que pareça ter havido um minuto de conversa ou um beijo entre estes extremos.

Fora com essa história de “parece que as horas não passam”!!! Isso não existe de fato. Tempo sempre passa.

Tempo
sempre
passa.

Tempo de gente é que pode parecer parar, tempo “humano”, tempo “psicológico”, tempo “de coração”, esses sim podem se contorcer, se arrastar, parar, até retroceder. Homens e mulheres de relógio, esperando que o tempo pare ou passe de acordo com suas vontades, obtendo apenas o efeito contrário, alcançando nada além de frustração, vendo seus dias se esvaírem como a areia dentro do vidro de uma ampulheta. Vidro que é feito da areia. Areia que o homem transforma em vidro pra tentar aprisionar o tempo.

Tempo feito de areia.
Tempo feito de metal.
Tempo feito de quartzo.
Todos tempos falsos!!! São tempos daqueles que buscam resolver suas “questões de tempo” construindo uma torre de babel rumo ao infinito.

Não há esse tempo. Tempo não se resume, mas tudo se resume ao tempo. Não há prazo no universo, previsões são meras perspectivas, e perspectivas são humanas, e humanos são falhos. Não há cálculos, não há equações, não há símbolo capaz de definir “tempo”. Tempo e espaço, espaço e tempo. O aqui de agora já não é o “aqui” de “agora”, pois mesmo o “agora” de “agora” não é mais o agora do agora de antes. Tudo que já FOI é passado, mas tudo aquilo que É ou SERÁ é agora.

Um dia disseram que “tempo é tudo que somos”. Eu não sei. Talvez seja, e embora o tempo não espere por nada nem por ninguém, sempre há tempo, e quanto a isso não temos escolha. Tudo que temos é o AGORA, e nunca é tarde demais enquanto estivermos dentro do tempo de nossas vidas. Pareço otimista ao invés de realista? Pense bem... Ser realista não precisa ser sempre considerar a gravidade das coisas, mas também sua leveza quando há. Se estou mais próximo do certo do que do errado, veremos. É uma mera questão de... adivinha?

sábado, 5 de janeiro de 2008

Lilith



Deixe-me, Lilith
Não
Por favor

Por favor, Lilith, agora
Abandone-me à minha própria sorte
Te pedi tantas vezes outras
Te perdi tantas outras vezes quantas
Mas finalmente, Lilith, agora
Creio que te perdi de vez

Ao menos por enquanto
Te perdi de vez, amor terrível
Terrível mas meu, amor que eu tinha
Me perdeste de vez também
Ao menos por enquanto
Lilith, amor meu

Devoraste meu corpo
Devoraste minha alma
Mil vezes sem limite
Enquanto te devorava eu
Na cama que quebramos
Reerguida após cada queda
Como nosso eterno adeus e retorno
Em um ano inteiro assim
De palavras, de ameaças
E de promessas nunca cumpridas

Por isso, rogo-te, Lilith
(e não me faças rogar em vão)
Se desta vez me mataste de vez
Em vez de ressuscitar-me, enterre-me
No canto de teu coração, Lilith
Que um dia me foi reservado

Nunca te esqueças, Lilith minha
Que para sempre sentirei
O cheiro de teu humor
O gosto de teu amor
A falta de teu corpo, Lilith
E falta dos nossos filhos
Em verdade teus filhos, tão meus
Que para sempre amarei também

Lilith, amada, adeus então
É o fim do mundo, mas vai passar
Deito-me em teu colo, imaginário agora
E já pesam meus olhos, amor
Meus olhos se fecham, para sempre
Com minha alma ainda presa ao corpo
Um corpo que ainda te sente

O que eu fiz?
O que foi que nos aconteceu, Lilith?

Adeus
Mas de nada sei
Então adeus, Lilith
Amor meu
Adeus
Por enquanto