terça-feira, 25 de novembro de 2008

Energia



Na sexta passada, a luz do "cantinho do computador", local do meu apê onde passo horas louvando ao nada, começou a tremer e queimou. "Lâmpadas queimam com o tempo", você pode dizer, "pode haver instabilidade na corrente", arriscaria ainda um experiente eletricista de cursinho pelo correio. Concordo, pode ser. Tudo "pode ser".

Nesta terça, dia seguinte ao meu aniversário, estava eu na sala jantando restos de bolo, os gatos ronronando ao meu lado, enquanto assistia ao Jornal Nacional com a TV no mute. Minha cabeça estava cheia demais para os fatos do dia, então eu ia criando minhas próprias notícias mentais enquanto via as imagens das matérias se revezando com closes dos âncoras. Por acaso, as tragédias não ficavam menos trágicas sem som, mas mantive assim.

Com o fim do bolo e o começo de mais uma seqüência de comerciais, fui à cozinha colocar o prato na pia (de difícil localização devido ao acúmulo da louça que data de 200 A.C.), quando ouvi um estouro vindo da sala.

A lâmpada da sala tinha simplesmente estourado. Não, não queimou. Estourou, explodiu, use o termo que você preferir, só sei que cacos de vidro se espalharam por sofá, chão da sala, chão do jardim de inverno, hall, porta do banheiro, enquanto os gatos olhavam curiosos, já devidamente escondidos, que não são bobos nem nada. Para eles, restava o susto e o pensamento de "mas que diabos foi isso?". Enquanto varria e catava os pedaços maiores, eu pensava em como era melhor no tempo em que as lâmpadas apenas queimavam. Depois eu me preocupo em retirar o que restou atarrachado no teto da sala, não tô afim de trocar isso agora.

Agora, só quero descansar, postar no blog e tentar entender isso. Isso e outras coisas, e torcer para que as próximas lâmpadas, de preferência, simplesmente queimem. Mas se forem estourar, que continuem ao menos esperando que eu saia do recinto. E por favor, poupem meus gatos.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Partes



Por que às vezes umas memórias involuntárias vêm à tona?

Estava eu trabalhando em um relatório chato hoje de manhã, quando do nada me veio a lembrança de um cheiro de plantas pequenas, como galhos de arruda e folhas de samambaia em vasos de vidro cheios d'água, o que me trouxe a imagem de um lugar da minha infância ao qual me lembro de ter ido várias vezes, estranhamente em dias chuvosos. Era uma lojinha de quinquilharias, dessas que vendem despertadores, bonecas baratas, flores de plástico, linhas de costura e chaveiros engraçados. Essa loja ficava na estrada do Galeão, na Ilha do Governador. Quem atendia lá era uma senhora japonesa, e quem me levava lá era a minha mãe.

O Galeão é um centro comercial da Ilha, então se você tem alguma coisa a fazer como ir ao médico, ao supermercado ou ao posto de gasolina, você vai pra lá. Acontece que mães nunca têm apenas uma coisa a fazer, e ao irem fazer as outras coisas além dessa uma coisa que nunca é a única, surgem outras coisas novas, dessas que pipocam nas mentes delirantes das mães enquanto elas olham as vitrines. Depois elas olham pra criança que levam pela mão. Depois olham uma certa vitrine. Olham criança, olham vitrine. Criança. Vitrine. Criança. Vitrine. Daí pra entrar com a criança naquela loja de seja lá o que for, não custa.

E nessa loja específica que voltou a mim esta manhã, eu entrava com minha mãe e olhava tantas coisas que me perdia em desejos. Muitas cores, cheiros, itens de utilidade questionável e qualidade mais questionável ainda, mas eu os queria. Então, de repente, eu que estava aqui me percebo mais de duas décadas atrás e me lembro de inúmeros potes de Geleca que eu ganhava, e de um boneco do Popeye de borracha contorcível com armação de arame por dentro, e do chaveiro que era uma pequena mão (também de borracha com arame dentro), e das imensas canetas com lanterna, e dos Aquaplays que mais cedo ou mais tarde vazavam sua água por todos os cantos, e dos ioiôs da Coca-Cola que nunca soube jogar direito, e dos óculos de natação (que eu adorava, embora não fizesse natação), e da motinho de fricção com um pequeno motoqueiro monocromático condenado a ficar montado nela pela eternidade, e do barquinho de plástico que tinha um pesinho de ferro no fundo para ficar reto ao flutuar, e das dezenas de flautas doces nas quais nunca aprendi a tocar algo além de "Asa Branca" (por que nunca "Assum Preto"?), e do revólver de espoleta (ah, o cheiro da pólvora estourada naquelas tirinhas de papel vermelho), e tantas outras coisas, muitas outras... Mas dessas eu não me lembro.

De repente fiquei quieto, e pensei nas coisas que nos constroem, as coisas e os fatos que fazem parte daquilo que vai virando a gente e a gente nem se dá conta. Por que isso me veio agora? Há um relatório que precisa ser terminado ainda hoje e enviado para a revisão do advogado. Há contas a pagar na hora do almoço. Há uma tensão nos ombros que me deixa preso.

Mas há também um Popeye contorcível, um chaveiro de mãozinha, uma Geleca, um Aquaplay, um menino com óculos de natação brincando pela sala em 1984... Sempre estiveram aqui e sempre estarão. Talvez nem sempre lembrados, mas agora eu sei, constantemente presentes.

sábado, 4 de outubro de 2008

O PREGO



Qual é a verdadeira dimensão das coisas? Qual a importância dos detalhes? Até que ponto é fato a teoria do caos, em que o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode gerar um furacão na Ásia? Eu não sei, não tenho respostas nem pra mim nem pra ninguém, mas acho interessante o pequeno poema abaixo, escrito por George Herbert em 1651 e originalmente intitulado "The Nail".

Pense nisso...


"O PREGO

Por falta de um prego,
perdeu-se uma ferradura.

Por falta de uma ferradura,
Perdeu-se um cavalo.

Por falta de um cavalo,
Perdeu-se um cavaleiro.

Por falta de um cavaleiro,
Perdeu-se uma batalha.

E assim um reino foi perdido.
Tudo por falta de um prego."

domingo, 28 de setembro de 2008

"Hurricane Jane" - Black Kids



A despeito do que as rádios brasileiras nos levam a acreditar, ainda há muita música boa pra ser tocada nesse mundo!!! Black Kids, som de primeira vindo das terras do Tio Sam, já ganhou presença constante no meu MP3.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Embora



Um trecho de Mário Quintana pra você. Eu não tô podendo, então vou me aproveitar de algo que ele escreveu. Não tem problema, de qualquer jeito, ele disse o que eu queria dizer:

(...)

É a mesma a ruazinha sossegada.
Com as velhas rondas e as canções de outrora...
E os meus lindos pregões da madrugada
Passam cantando ruazinha em fora!
Mas parece que a luz está cansada...
E, não sei como, tudo tem, agora,
Essa tonalidade amarelada
Dos cartazes que o tempo descolora...
Sim, desses cartazes ante os quais
Nós às vezes paramos, indecisos...
Mas para quê?... Se não adiantam mais!...
Pobres cartazes por aí afora
Que inda anunciam: - Alegrias - Risos
Depois do Circo já ter ido embora!...

(...)
Você entendeu? Você captou? Se não, não tem problema, pode deixar... quem devia entender, entendeu, seja como for. Tenho certeza disso.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Pão



Juras de amor eterno são feitas com a mesma facilidade com a qual se pede pão na padaria, e costumam durar tanto quanto este.

Exemplos contrários serão sempre bem-vindos. Dali e Gala? Dali e Gala, possivelmente. Só pra constar, Dali ilustra este post.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Bukowski



Venho aqui trazer para vocês mais um poema do velho safado, Charles Bukowski. Dessa vez, publico inspirado por uma amiga que postou este mesmo poema em seu blog há um tempinho. Mandou bem.

Cause and Effect
(Charles Bukowski)

the best often die by their own hand

just to get away,
and those left behindcan never quite understandwhy anybodywould ever want to
get away
fromthem

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Germíandras



Germíandras são afucelhos biliais agrupados na epinestrose, um ramo do estudo galêutico antinonímico das verdades antropofônicas colastosas, que por sua vez se desenvolveu de uma dissidência ornótica da pseudologia auril, responsável por avaliar as ulinímias de tordetos e pióis (assunto rico devido à anuação liota, quase sempre tripla). Mas tendo em vista que os tordetos e os pióis já foram analisados exaustivamente por H. Romeu Pintchu, vamos falar um pouco mais sobre as germíandras.

Como todos sabem, germíandras e germiálios costumam surgir adeutinamente em crosbelhos arbustosos, mas nunca impoerimente. Quando aparecem, as germíandras permanecem estagnadas, aguardando o momento mais apropriado para relufar em um hospedeiro. Uma vez prenidas a um sistema lufoso, as germíandras coartam em pares, forçando seu hospedeiro a juir um trobago, mesmo que não esteja acompanhado de um gulió.

A habilidade de relufação das germíandras é tal que, mesmo em ambientes inóspitos, elas entiorpam cruzóides sem distinção, prolerando argúsias délicas capazes de produzir e espalhar fagutos a distâncias transatlânticas. É nesta ocasião que se dá, finalmente, a fase fivativa do ciclo das germíandras, que nunca se desfazem sem deixar ao menos um faguto apto ao ciclo sôndrico.

No próximo capítulo, trataremos das variações ariastosas de perilerinos louvosos pluriformes.

sábado, 24 de maio de 2008

Enganoso



"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso: quem poderá conhecê-lo?"
Jeremias 17:9

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Realidades



Ah sim, eu a sinto, a conheço e a quero, mas ela existe? E eu, existo, só porque penso? Será que ela é um sonho meu, ou eu sou um personagem dentro de um sonho dela? E se ela ou eu não existirmos que não dentro de um sonho, meus sentimentos são menos reais por isso? Gostar, querer bem, admirar, apreciar a companhia, sentir saudade... Conheço isso tudo, não sei se isso é amar (se é que amor existe como um algo à parte). Não sei se já soube mesmo disso ou se apenas tive uma noção de algo que, ao comparar com o que contam por aí, achei justo nomear "amor" ainda que não o fosse. Mas bem, sobre isso já falei exaustivamente na postagem Roma, em algum lugar do passado deste blog.

Meu retorno a este assunto hoje é breve, quase nada a ver, apenas pra expor as conturbações deixadas em minha cabeça (que já não é pouco conturbada) pelas reflexões de filmes como O 13º Andar, Donnie Darko, Cidade dos Sonhos, Sublime, Waking Life, eXistenZ, e por que não, Matrix.

Isso aqui é real? É sonho?
O sonho é menos real do que aquilo que vivemos no estado de vigília?
Se neste momento eu estivesse sonhando, eu estaria fazendo estas perguntas?

Sentimos o mundo através das percepções que são transmitidas ao nosso cérebro e que por ele são interpretadas, e é através deste mesmo processo que sentimos o que vivenciamos durante os sonhos. Isso explica por que tudo nos parece tão real enquanto sonhamos: porque é real. É como o amputado que sente doer a perna que já não tem mais: essa dor é real, ele a sente! Você corre de monstros, zumbis ou demônios durante um sonho, pois os teme de verdade, em um sonho não há absurdos: um armário pode virar um elefante e sair voando, e ok, tudo bem, você não vai dizer pra si mesmo "mas isso é impossível!!!", você vai apenas aceitar que é assim. Então me diga: se amanhã, durante seu expediente, um anjo com uma espada de fogo entrasse pela janela do escritório em meio a uma chuva de sapos, você simplesmente olharia, diria "isso é impossível" e continuaria a digitar em seu computador?

Já não sei o quanto posso confiar no meu cérebro, nas minhas sensações ou nos meus sentimentos. Já estive em lugares e fiz coisas que agora só existem na minha memória, e já sonhei que estive em lugares (onde nunca fui fisicamente) e fiz coisas apenas em sonhos que, igualmente, agora só existem na minha memória, e posso garantir que, ao pensar em todas essas situações, as imagens e sensações são idênticas. Se eu medir apenas pela memória, posso afirmar que dá no mesmo. Ou você nunca se perguntou "caramba, eu fiz mesmo isso ou sonhei que fiz?"

Já não sei mais. Simplesmente não sei, mas isso não me assusta. Pelo contrário, acho que me deixa calmo de certa forma, pois chegar nesses paradoxos me diverte. Pensar, pensar, pensar e não chegar a lugar nenhum é o que há. Melhor que isso, só sexo. E montanha russa.

Então eu sei gostar, querer bem, admirar, apreciar a companhia, sentir saudade de alguém, e faço disso tudo minha forma de amar, pois no geral, o que vejo muito por aí é alguém que cisma com outro alguém e diz que isso é amar. Não quero mais cismar com ninguém, já tem um tempo que parei com aquela busca ridícula de sentir um certo sentimento ímpar e indescritível mas que insistem em descrever. Eu já sei o que quero, e o que eu quero é a boa companhia de alguém de quem eu goste, queira bem, admire, aprecie a companhia e sinta falta quando ausente, meu par, minha parceira. Tendo tudo isso, você acha mesmo que vou reclamar de não ter sentido "aquele arrepio" ou o "algo especial"? Fala sério, tudo isso que descrevi É algo especial, e é tão real quanto todo o resto. Se ela sentirá o mesmo por mim eu não sei. Se ela disser que sente, jamais terei certeza disso, e nada disso importa, mas disso eu também já tratei no passado deste blog, na postagem Certeza.

Nessa existência(?) de verdades relativas, muita gente fica sofrendo em busca de uma merda de verdade absoluta e sentimento supremo que não existem. O que me parecer real e eu acreditar ser real será real, ainda que não o seja em si. E então, que seja como for.

sábado, 10 de maio de 2008

Perder



Nada a perder
Pra quem não tinha nada a ganhar
É como ver o dia morrer
A noite chegar
O tempo passar

E quem vai ficar
De bem com a vida
Quem vai ficar
Com a chave da saída que dá
Pra outro lugar que não seja aqui

Eu tentei
Você viu que eu tentei de todas as maneiras
Eu errei
Transformei nosso amor num romance qualquer
É assim que isso tudo começa
Foi assim que isso tudo acabou
Eu tentei
Você viu que eu tentei

Nada a dizer
Pra quem não tinha nada a falar
Alguém podia me convencer
Que a vida é assim
Pegar ou largar

E o que vai sobrar
Do amor que eu guardei pra te dar
A estória que eu queria contar
Não era tão triste...

(Música: Nada A Perder
Artista: Danilo Caymmi
Álbum: Danilo CaymmiAno: 1994)

sábado, 12 de abril de 2008

Hibernações



Sem postar uma letra sequer desde o carnaval, desperto agora da boa hibernação, reformulando o visual deste blog pra marcar a nova fase. Foi um bom sono, um bom descanso mental e digital. Estava simplesmente completamente sem paciência pra escrever ou ler qualquer coisa, mas nada dura pra sempre. Nem deve.

Pra começar, preciso corrigir o que foi dito na última postagem: meu carnaval foi bacana pra caraio!!! Logo depois de escrever Alalaô, fui chamado pra ir no Bar do Adão em Botafogo, conversar com uns amigos, tomar uns chopes e comer uns pastéis que são coisa de outro mundo. Depois, emendei numa noitada regada a bastante cerveja e bate-papo. Conheci gente nova e nem me lembro de todos os detalhes daquela noite, mas foi bacana. A noite seguinte foi tão agitada quanto, enchendo a cara de caipirinhas e outros drinks pelas ruas da Lapa, depois fechando no show de Casuarina e convidados na Fundição Progresso. Fodam-se o Casuarina e seus convidados, mas eles tocam aqueles sambinhas de Paulinho da Viola, Cartola e outros que já foram sucesso nas vozes de seus próprios criadores. Como diz um amigo meu, eles gozam com o pau dos outros. Que seja. A galera no local era bacana, muita gente curtindo, eu completando o tanque com uísque e Red Bull e perdendo a noção. Achei o preço um roubo pra quantidade de bebida que vinha e discuti, xinguei e quase caí na porrada com o barman (pois é, justo eu, querendo partir pras vias de fato). Coisas do álcool. Mas porra, o cara foi estúpido quando pedi pra ele corrigir aquela injustiça, merecia a mãozada que eu quase acertei. Não aconteceu a porradaria porque ele recuou, e a distância do balcão para o local de onde ele ficou gritando era imensa. Eles chamaram o segurança e eu fiquei parado só esperando (mas também parei de gritar, que não sou besta). O segurança chegou, olhou, rodou, deu uma pirueta e se foi sem fazer nem dizer nada. People are strange, fazer o que?

Além disso, tive mais das clássicas conversas com os taxistas que me levam e trazem pelas madrugadas desse Rio de Janeiro. Uns voam e derrapam, outros dirigem quase dormindo. No geral, recebo conselhos sobre como as mulheres devem ser tratadas, o que inclui indiferença, grosseria, traições sempre que possível e, por fim, jamais declarar-se apaixonado ("Jamais, senão elas montam!"). Depois, eles sempre complementam contando suas próprias experiências de vida, e é cada uma que, sinceramente, entendo porque esses caras chegaram às tristes conclusões que mencionei. Um brinde, então, aos taxistas de coração partido das madrugadas do Rio de Janeiro!!! Sem eles, nós bêbados não conseguiríamos sair da Lapa e chegar em qualquer lugar que fosse.

A verdade é que a Lapa já se tornou meu inferno e meu paraíso particular. Minha noite é lá. Tem muita gente doida nesse mundo, sabe? Não posso reclamar das coisas que me têm vindo nessa vida. O caminho é acidentado, mas acaba sendo de se apreciar a cada passo. E, até certo ponto, as coisas têm mudado pra melhor. É só a gente ajustar o foco, manter os princípios que nos são úteis e jogar fora os que não se sustentam neste mundo bizarro. Tudo começa a ficar mais legal do que parecia ser possível.

Se aceitar um conselho, hiberne de vez em quando. Pare um momento só de buscar mais sucesso, buscar mais dinheiro, buscar amor, buscar sei-lá-mais-o-que que você queira mas no momento não tem. Faça apenas sua rotina, seu dia-a-dia, curta seu cotidiano um pouco como se não tivesse que correr atrás de nada mais. Apenas viva um pouco. Apenas exista um pouco. Assim você se recarrega, reflete um pouco melhor e promove os ajustes que, aí sim, poderão te ajudar a conquistar o que você não tem conseguido. Apenas mantenha a calma. Caaaaaalma...

E leia Bukowski. No momento, estou lendo Factótum, que chegou a render um filme. Depois, vá ao Bukowski, uma casa laranja bem legal lá em Botafogo. Quer saber o que pode te acontecer por lá? Leia Bukowski.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Alalaô



É carnaval. Não viajei pra lugar algum, estou em casa. O comércio está todo fechado. Uma chuva incessante cai lá fora, estragando meus planos de sair pra andar por aí em busca dos carnavais de rua da Ilha que curti algumas vezes em minha adolescência. Fico em casa então, aproveitando uma geladeira lotada de Danettes, Chandelles, bolos e Chambinho, além de sucos e Yakult que comprei neste sábado como uma formiga se preparando pro inverno. Trouxe também sacos de Ruffles Cebola & Salsa e duas garrafas de vinho (um espumante e um tinto) que se encontram no meu quarto.

Sem dúvida, estou muuuuito entediado. Esse na foto aí em cima sou eu assistindo o carnaval pela TV. Nada de interessante, fora os momentos imprevisíveis (e mais curtos do que deveriam ser) em que são exibidas as rainhas e madrinhas de bateria das escolas de samba. Por exemplo, acaba de aparecer a Juliana Paes desfilando pela Viradouro e permitindo que seu seio esquerdo salte além do limite e marque mais presença que a bateria. Quem também andou me chamando a atenção foi a quase muda (mas muito sorridente) Janaína Jacobina no programa Bastidores do Carnaval 2008 na Rede TV, ao lado do angustiante Nelson Rubens. Se Deus fosse mesmo bom, faria Nelson Rubens ter um ataque cardíaco ao vivo, que ao cair tentando se segurar no vestido de sua colega de palco, o rasgaria e deixaria Janaína Jacobina completamente nua. E não, Nelson não se salvaria. Mas sei que isso não vai acontecer porque quem ainda não viu a Janaína nua fui eu, Deus já a viu pelada inúmeras vezes (me ensinaram que ele vê tudo em todos os lugares) e não precisaria se dar ao trabalho. Como também suspeito que o senso de humor divino é muito bizarro, Nelson Rubens deve ser imortal.

Ah, mas nem tudo está perdido!!! Estou em casa com uma mochila cheia de filmes bacanas baixados pela internet e que não estão por aí em locadoras, tudo cortesia de meu camarada folião marioelva. Tenho aqui coisas como Batalla en el Cielo, The Brown Bunny, The Book of Life, The Science of Sleep, Shortbus, Coffe and Cigarettes, Existenz, Eraserhead, e outros mais completando 42 filmes. Minha mente está sendo bombardeada com conceitos diferentes daqueles padrões cinematográficos com os quais nos acostumamos. Muita coisa bizarra, mas agradável. Também umas coisas desagradáveis, mas curiosas. Outras coisas inúteis, mas interessantes. Algumas coisas que não dá pra entender de princípio e que te forçam a buscar algum entendimento próprio, ou que simplesmente te fazem assumir sua completa incapacidade de inventar uma explicação para o que foi exibido, ou mesmo admitir que não há de fato a necessidade de se entender algo para apreciá-lo.

Acabo de assistir Sicko, de Michael Moore. Sim, aquele mesmo cara de Fahrenheit 9/11 e Bowling for Columbine, só pra citar os mais comentados. Em Sicko, ele denuncia a real condição do sistema médico estadunidense, que sem a maquiagem com a qual cobrem tudo que chega lá de fora até nós, se parece em muito com o nosso sistema público de saúde e com nossa necessidade de depender de planos de saúde que muitas vezes nos negam socorro. Só não vou comentar mais nada porque esse post não se destina a analisar este documentário, mas fica aqui a dica: quando chegar na locadora, alugue.

Antes de assistir o próximo filme, vou pegar meu violão um pouquinho. Estou trabalhando numa composição esses dias e acabo de ter umas idéias de frases que preciso encaixar na melodia de algum jeito. Vou abrir o vinho tinto aqui pra azeitar minhas engrenagens. Se os deuses do carnaval me ajudarem, até a quarta-feira de cinzas estarei com a canção pronta e 3 quilos mais gordo.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Tempo



Se desejarmos, tudo pode ser resolvido pela expressão é uma questão de tempo. Problemas sérios, problemas pequenos, problemas que nos trazem e problemas que buscamos: é apenas uma questão de tempo. Brigas entre casais, discussões homéricas com os melhores amigos, time na lanterna já no começo do campeonato. Questão de tempo.

Só com o tempo pode-se perceber se as juras de amor eram verdadeiras, se as promessas eram falsas, se os acordos são firmes ou quebradiços. O tempo cura aquelas feridas que hoje parecem eternas e impossíveis de esquecer, e as que ele não cura ao menos desvia do centro das atenções. Talvez seja exatamente isso que a tal “questão de tempo” prove. Tempo que voa ou se arrasta, não importa. Só o tempo mede a capacidade humana de esquecer, e a humanidade nunca se esquece de medir o tempo.

Mede-se o tempo para contar, para estimar, para deixar algo para trás. Horas tristes demoram a passar porque o tempo reage contrariamente à força que lhe impomos: quanto mais desejamos deixar um momento para trás, mais este se atém ao presente, relutante em virar passado. Funerais longos, expedientes que não chegam ao fim, corações partidos que sentem os dias se transformando em anos. Contudo, inversamente proporcional, a alegria atrai o futuro como um poderoso magneto, em dias felizes que anoitecem inexplicavelmente logo após você dar a mão à pessoa amada, ou um “olá” que parece ser instantaneamente seguido de “tenha bons sonhos, meu anjo”, sem que pareça ter havido um minuto de conversa ou um beijo entre estes extremos.

Fora com essa história de “parece que as horas não passam”!!! Isso não existe de fato. Tempo sempre passa.

Tempo
sempre
passa.

Tempo de gente é que pode parecer parar, tempo “humano”, tempo “psicológico”, tempo “de coração”, esses sim podem se contorcer, se arrastar, parar, até retroceder. Homens e mulheres de relógio, esperando que o tempo pare ou passe de acordo com suas vontades, obtendo apenas o efeito contrário, alcançando nada além de frustração, vendo seus dias se esvaírem como a areia dentro do vidro de uma ampulheta. Vidro que é feito da areia. Areia que o homem transforma em vidro pra tentar aprisionar o tempo.

Tempo feito de areia.
Tempo feito de metal.
Tempo feito de quartzo.
Todos tempos falsos!!! São tempos daqueles que buscam resolver suas “questões de tempo” construindo uma torre de babel rumo ao infinito.

Não há esse tempo. Tempo não se resume, mas tudo se resume ao tempo. Não há prazo no universo, previsões são meras perspectivas, e perspectivas são humanas, e humanos são falhos. Não há cálculos, não há equações, não há símbolo capaz de definir “tempo”. Tempo e espaço, espaço e tempo. O aqui de agora já não é o “aqui” de “agora”, pois mesmo o “agora” de “agora” não é mais o agora do agora de antes. Tudo que já FOI é passado, mas tudo aquilo que É ou SERÁ é agora.

Um dia disseram que “tempo é tudo que somos”. Eu não sei. Talvez seja, e embora o tempo não espere por nada nem por ninguém, sempre há tempo, e quanto a isso não temos escolha. Tudo que temos é o AGORA, e nunca é tarde demais enquanto estivermos dentro do tempo de nossas vidas. Pareço otimista ao invés de realista? Pense bem... Ser realista não precisa ser sempre considerar a gravidade das coisas, mas também sua leveza quando há. Se estou mais próximo do certo do que do errado, veremos. É uma mera questão de... adivinha?

sábado, 5 de janeiro de 2008

Lilith



Deixe-me, Lilith
Não
Por favor

Por favor, Lilith, agora
Abandone-me à minha própria sorte
Te pedi tantas vezes outras
Te perdi tantas outras vezes quantas
Mas finalmente, Lilith, agora
Creio que te perdi de vez

Ao menos por enquanto
Te perdi de vez, amor terrível
Terrível mas meu, amor que eu tinha
Me perdeste de vez também
Ao menos por enquanto
Lilith, amor meu

Devoraste meu corpo
Devoraste minha alma
Mil vezes sem limite
Enquanto te devorava eu
Na cama que quebramos
Reerguida após cada queda
Como nosso eterno adeus e retorno
Em um ano inteiro assim
De palavras, de ameaças
E de promessas nunca cumpridas

Por isso, rogo-te, Lilith
(e não me faças rogar em vão)
Se desta vez me mataste de vez
Em vez de ressuscitar-me, enterre-me
No canto de teu coração, Lilith
Que um dia me foi reservado

Nunca te esqueças, Lilith minha
Que para sempre sentirei
O cheiro de teu humor
O gosto de teu amor
A falta de teu corpo, Lilith
E falta dos nossos filhos
Em verdade teus filhos, tão meus
Que para sempre amarei também

Lilith, amada, adeus então
É o fim do mundo, mas vai passar
Deito-me em teu colo, imaginário agora
E já pesam meus olhos, amor
Meus olhos se fecham, para sempre
Com minha alma ainda presa ao corpo
Um corpo que ainda te sente

O que eu fiz?
O que foi que nos aconteceu, Lilith?

Adeus
Mas de nada sei
Então adeus, Lilith
Amor meu
Adeus
Por enquanto