domingo, 8 de maio de 2011

ελπίδα


Mais um domingo acabou, mais uma segunda-feira começando. O relógio marca 00:08 no canto inferior do monitor.

Pipo e Dâdi se conheceram no 6º Encontro Estadual de Imitadores de Robôs do Rio de Janeiro. Pipo era ela, Dâdi era ele. Apelidos para encobrir seus horrorosos nomes próprios, horrorosos a ponto de Pipo (pra ela) e Dâdi (pra ele) serem boas opções de alcunha, mas quando você se apaixona por alguém baseado no quão bem a pessoa personifica o robô B-9 de uma série de TV que passava em 1965, um nome é a menor de suas preocupações.

Pipo viu Dâdi primeiro, mas não deu bola. Dâdi viu Pipo quarenta minutos depois, e foi paixão à primeira vista. Ele foi até ela carregando um buquê de fios coloridos arrancados de rádios velhos, coisa que ele tinha levado pro evento apenas para complementar sua imitação de C-3PO, mas que agora pareciam merecer destino melhor do que o limite entre sua camisa e a barra da cueca. Uma cueca azul marinho com um largo elástico cinza, que na verdade já estava frouxo de velho. Isso não vem ao caso.

O importante é que Pipo viu aquele homem magro e de movimentos detidos vindo em sua direção, estendendo o braço, posicionando-o em frente a seu rosto e exibindo os fios, uns longos e outros curtos, vermelhos/verdes/azuis/amarelos/pretos/e uns brancos com suaves inscrições, e dizendo "são pra você". Pipo entendeu, e finalmente enxergou Dâdi com os mesmos olhos com os quais ele a enxergara. Eles sorriram um pro outro. Infelizmente isso os impediu de concorrer a qualquer prêmio possível de imitação de robôs daquele dia, afinal, robôs não possuem emoções, até onde se sabe. Então eles saíram de lá, se beijaram e no beijo tomaram um choque. Afastaram os lábios no susto, olharam um pro outro e riram, se olharam com mais ternura, se deram as mãos e caminharam mais, e conversaram mais, namoraram, se casaram, tiveram filhos e foram felizes por bastante tempo FIM.

O que eu quis dizer com este conto idiota é que aparentemente mesmo os mais estranhos podem encontrar estranhos que deles gostem, assim como mesmo os mais esquisitos podem vir a amar outros que eles considerem talvez mais esquisitos do que a si próprios, e isso nem é regra: comuns com comuns, estranhos com estranhos, esquisitos com esquisitos, imbecis com imbecis etc. Nem é regra. Não há regra. Então ao mesmo tempo em que me parece óbvio e fácil que os solitários deste mundo percam em certa altura de suas vidas qualquer conceito ainda que vago de esperança (digo, ao menos aqueles que estão em busca de companhia, pois há quem esteja plenamente satisfeito com a sua solidão e parabéns), não me parece lógico. Baseado no que vejo ao meu redor ou à distância, pelos programas de TV e pela rede mundial de computadores, os que se proclamam sem esperança sonham amplamente com suas esperanças e as listam gritadas para quem quiser se inteirar do fato.

A esperança é química, é física, é elétrica, é biológica, está no nosso sistema límbico, fomos programados pela natureza assim. Já perdi minhas esperanças tantas vezes nessa vida quando só enxerguei as desgraças da humanidade ou meus desejos pisados, tantas vezes me fiz de cego afirmando uma inverdade contumaz, renegando a realidade incômoda e indevida ao momento de que a esperança não me deixa, não me abandona jamais. Dizem que é impossível um ser humano enforcar-se apertando o próprio pescoço com suas mãos e isso me faz pensar nas limitadas mas talvez imbatíveis travas de segurança que trazemos em nós à despeito de algumas vontades mesquinhas que venhamos a ter. Pois creio agora que uma dessas travas garante que quem estiver vivo tem esperança em si, ainda que prefira não acreditar, ainda que a recuse.

Você ainda sai pelas ruas, você ainda vê filmes, você ainda lê livros, você ainda seleciona seus alimentos, você ainda navega pela internet, você ainda mantém um perfil no Facebook, você ainda escreve em blogs, você ainda tem uma conta bancária, você ainda faz cursos, você ainda suporta as infelicidades, você ainda ri de algo vez ou outra, você ainda não está morto, você ainda tem sonhos, você ainda tem desejos, então, concordando comigo ou não, eu tomo a liberdade de arriscar que você ainda tem esperanças sim.

3 comentários:

Giselle Fleury disse...

Is there hope still? ;-)

Marcos AM Ramos disse...

I think so, Gi. There is this inevitable, unavoidable, inescapable hope as an entity in everyone. Sometimes unseen, but never absent.

Unknown disse...

It lasts a life time...