domingo, 29 de julho de 2007

Nada

Oi.
Estou aqui só por estar, pois na verdade estou absolutamente sem inspiração pra escrever seja lá o que for, mas como eu queria escrever algo (até para cumprir com minha meta de atualizações semanais neste blog), cá estou. Então é isso, você está presenciando, neste exato momento, eu sem saber sobre o que falar, falando sobre absolutamente sei-lá-o-que.

Noutro dia desses sem ser hoje outro, eu estava pensando (sem falar em voz alta) o que se passava pela minha cabeça. Foi engraçado, pois foi como se fosse assim mesmo, do jeito que é, sem ser diferente nem de outra forma ou de outro modo. Apenas assim, como é. E assim era e assim foi bom, de uma forma que não é nem será mais. Concreto e abstrato, concreto e asfalto, pois concreto não é asfalto nem cimento, muito menos isso, nem também borracha. Pois faça de conta que seja só pra ver como seria se fosse, pra você ver se não é melhor assim do jeito que está e é, não é? Não, não é, pois o “pois não” significa “sim” e o “pois sim” significa “não”. E embora pareça, isso aqui não é letra de música do Engenheiros do Havaí, nem da Rita Lee, nem poema pra ser declamado no CEP 20000.

Se não tem ninguém, tem alguém, pois se não tivesse alguém, aí sim teria ninguém. Por outro lado, se tivesse ninguém, não teria quem se ter, e isso me remete ao começo dos tempos: ninguém é a ausência de alguém, e alguém existe, assim como nada é a ausência de algo, mas o “algo” tem que existir para que se faça ausente. Existir é verbo, mas não de ação, e acho que nunca descobriremos o mistério de existir, pois sempre que voltarmos mais atrás para descobrir de onde veio a existência, teremos que parar em algo que apenas imaginamos, pois se o começo de tudo foi uma explosão quando não havia nada, o que diabos explodiu?

Até onde sei (e a partir deste ponto o texto parece que vai ganhar algum sentido), explosões não surgem do nada, e é nisso que querem que eu acredite? Que o “nada” explodiu e deu origem ao universo? Por acaso você já andou por aí e surgiu uma explosãozinha na sua cara? Bom, eu nem me espantaria com isso agora, pois no ar há gases, e gases que explodem. Gases que são parte da existência, assim como tudo, e que surgiram da mesma origem do “tudo”. Então se os gases só surgiram junto com tudo no universo que se criou após a tal grande explosão, O QUE DIABOS EXPLODIU?!?!?!

Por isso às vezes é melhor apenas acreditar em Deus mesmo, acreditar que ele criou o universo e pronto. Mas daí eu penso: o que será que Deus fazia antes de criar o universo? Isso devia ser um tédio terrível!!! Ou então vou acreditar que ele criou o universo logo assim que se deu conta de que ele mesmo (Deus) existia e de que tudo estava um saco e então ele pensou, tipo, “ô porra, eu sou DEUS?!”, e daí no mesmo segundo em que Deus se dá conta de que ele é Deus, cria-se o universo. Daí fica tudo muuuuuuuito mais fácil de se explicar, pensar que Deus sempre existiu e tinha sérios problemas de gases (vindos de comer “nada”, pois se não havia a “existência”, não havia o que se comer), e então um dia Deus tomba pro lado devagarzinho, assim somo o vovô no sofá da sala domingo à tarde, franze a testa, faz aquela cara que denuncia suas intenções intestinais, uma leve força e PRRRRRRFFFFFF!!!!
Criou-se o universo.

Uma boa explicação para “de onde viemos”, não?
Eu tinha avisado lá no começo que hoje eu estava sem assunto...

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Bogari

Ele ainda pergunta, olhando-a já na porta, mesmo já sem fé.

- Você vai mesmo?
- Talvez um dia a gente...
- Você vai mesmo?
(Silêncio)

Ele insiste, dando chances a quem não está pedindo chance alguma.

- Tem certeza?
- ...
- RESPONDE!!! ... por favor...
- Tchau.

Ela vai saindo com uma pequena mala na mão, só leva o que é dela. Talvez ele nunca tenha sentido um gosto tão amargo. Nem há nada em sua boca... ou na verdade há. Há algo em sua boca. Há um “adeus” preso, esticado pela garganta, uma palavra que existe, que pensou, mas que não permite que saia. Parou ali, sobre a língua. O estômago então começa a doer, tão intensamente quanto a sensação de vazio.

Permanece ali, parado, sentado na beira da cama. Fica assim por uns dez minutos e alguns segundos que, realmente, não são importantes para se contar agora. Olha fixamente para o rodapé, mas a mente vaga entre o nada e o confuso. É quando a mão direita se eleva e afaga a barba que emoldura o rosto, um rosto que é mais jovem do que aparenta. A mão passa lentamente uma vez, outra, se detém no queixo e então o traz de volta à realidade que, no momento, não é muito agradável. A foto ao lado da cama mostra o rosto daquela que se foi, aquela que ele pensou que ficaria, ou que ao menos ele queria que ficasse. A foto nem é tão boa. O cabelo desgrenhado cobriu um dos olhos, e o outro parece encará-lo, parece culpá-lo. Sabe qual é o problema? Memórias são involuntárias.

O céu está acinzentado, vai chover. Olhando pela janela, ele a vê, lá na rua. Ela está indo embora mesmo. Ela ainda chega a olhar pra cima, para a janela, quando um primeiro pingo de chuva atinge sua testa e escorre para o olho. Sorte que ela não está vertendo sequer uma lágrima, ou não saberia distinguir o choro da chuva. Vira o rosto e volta a encarar o asfalto, a seguir seu caminho até a esquina, onde pretende pegar um táxi. Não demora e chega um.
- Pra onde, senhora?
- Vai seguindo que daqui a pouco eu decido.
- ?

O taxista estranha, no entanto não há o que discutir, desde que ela pague a corrida. Ela ainda não sabe se vai direto para a casa dos pais ou se pára antes, na Igreja de São José. Foi lá onde se conheceram, há dois anos, no casamento de sua irmã. Ele era convidado do noivo, amigos de trabalho. Foram apresentados pelos recém-casados, e se essa história de “química” fosse real teriam entrado em combustão espontânea. Quando volta ao presente, ela percebe que a igreja já passou, nem viu. “Tudo bem”, pensa. Segue para a casa dos pais. Decide que amanhã, de manhã, lá pelas nove, ela vai passar na São José, ficar um pouco, meditar um pouco, só pra lembrar.

Ele? Ao sentir a chuva em sua nuca, resolve abrir a janela toda para que, quem sabe assim, o vento gelado entre livre e renove o ar daquele apartamento minúsculo no oitavo andar. Sua cabeça está a mil, a vontade de gritar, urrar e esmurrar é angustiante!!! Resolve então pôr uma música pra tocar bem alto, aperta o botão sem mesmo ver. A música é... é Lover, You Should’ve Come Over, Jeff Buckley. Maldição. Seu primeiro impulso é tirar, mas algo o detém, as lembranças de certos momentos, dos dois juntos, dela aninhada em seus braços, tantas coisas, tantas...
A saudade coça o céu da boca.
Talvez o maior problema seja esse perfume que ela usava. Usa. O cheiro insiste em ficar em tudo, mesmo onde não está. O cheiro está em seu nariz. O cheiro está nele mesmo, dentro e fora. O cheiro dela. A saudade tem cheiro, som, nome e gosto. O telefone de casa toca. Ele hesita, mas atende.
- Alô?
- Querido? É mamãe! Tudo bem? Você não vem mais aqui, não liga, eu fico preocupada!
- Tô bem, mãe. Tô ótimo.
- Ah, que bom. Assim, sim. Agora chama essa sua mulher aí que eu quero falar com ela, precisamos marcar de...
- Olha mãe, agora não dá. Ela... Ela tá... Ela saiu.
- Saiu? Ela foi no circo?
- Circo?
- É, o Orlando Orfei ta lá na Praça XI. Ela foi ver “a beleza das águas dançantes”?
- Pô mãe, sei lá. Ela só foi, só isso.
- Mas por que você não foi?
- Eu não gosto de palhaços. Não gosto das sacanagens com os animais também.
- Hmmmmmm...
- “Hmmm” o quê, mãe?!
- Nada. Só estranhei. Eu hein, nervoso...
- Olha, mãe, eu tenho que desligar agora. Tô cheio de coisas pra fazer.
- Tá bom, querido. Não some, tá? Cuidado com esse tempo doido.
- Tá. Tchau.

Ele se pergunta se todas as mães são chatas ou se isso é um complô. Será que todo relacionamento que envolva um amor muito forte acaba enjoando com o tempo? Fica desgastado? Acaba? Muda?
De repente, quando os sentimentos se confundem, é preciso se afastar de tudo e de todos. Ele imagina se algo dentro de si mesmo basta, sozinho, para fazê-lo feliz por ser sua melhor companhia naquele instante. “Quem precisa dela?”, pensa. De repente, não era mesmo para que eles ficassem juntos. Quem sabe desse tal destino? Quem sabe se... se... se... se...
Após desligar o telefone, ele volta à janela para tomar um pouco de chuva gelada na cara, no peito, para acordar, clarear a mente, pensar, pensar. Finalmente uma decisão surge, uma clara decisão. Uma memória boa, de um tempo em que tudo prometia ser mais que perfeito. Lembra-se de um lugar especial, um lugar que ele não visita há muito tempo, mas que sempre está à sua disposição, aguardando-o para momentos justamente como este.
Por hoje, cinco da tarde, a casa é a concha na qual ele precisa se guardar um pouco. Mas amanhã, logo de manhã, lá pelas nove, ele vai passar numa igreja que tem ali mesmo no bairro, a São José. Ficar um pouco, meditar um pouco...

Só pra lembrar.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Certeza

- Sabe cara, hoje eu tava pensando...
- Hmm.
- Hoje eu tava pensando.
- Sei. No quê?
- Coisas.
- Coisas?
- É.
- Não faz isso muito não. Não faz bem. Sério, cara.
- É que sei lá...
- A gente fica doido.
- Não, tá, mas é que... Veja bem, não é tão difícil de entender, mas na prática...
- Tô te ouvindo.
- Assim... Como saber se alguém gosta mesmo da gente, hein? Como saber se alguém te ama? Como? Cê sabe?
- Perguntando.
- Não... Não, não assim. Tô falando saber de verdade, ter certeza. As pessoas costumam dizer apenas o que é mais cômodo, fácil, apropriado pro momento, sei lá. Nem sempre é o que pensam mesmo, ou o que sentem.
- Quase nunca é.
- É. Nunca.
- É.
- Difícil isso. Quer dizer que a gente vai sempre ficar na dúvida.
- É.
- Mas não dá! Não me conformo com isso. Tipo, se eu chegar pra minha mulher e disser que a amo, mesmo, é porque a amo.
- Bem, isso é o que você diz.
- Mas é a verdade!
- Ela pode achar que não.
- Por que não?
- Ué, como ela vai ter certeza? Você mesmo acabou de dizer que não dá pra ter certeza. Ela não teria certeza. Você não teria certeza se ela dissesse. Hoje em dia qualquer um sai dizendo “eu te amo” pra qualquer um.
- Não eu!!!
- Ah, legal. Bonito isso, cara. Mas deu no mesmo.
- Mas olha, eu sei de tudo isso que você falou, mas... Deve haver algum jeito. Uma prova de amor? A-ha!!! Exigir uma prova de amor!!! Que tal?
- Tipo?
- Tipo pedir pra ela algo especial, um sacrifício, algo assim. Pedir que ela corte uma orelha fora por você! Como Van Gogh! Uma orelhinha só, nem faria tanta falta.
- Pra mim faria.
- Sei, mas o que você acha?
- Acho isso uma idéia besta. Acho que isso só provaria que você é um doente. E que não gosta dela de verdade.
- ... entendi...
- Olha só, você tem religião?
- Sim.
- Pois é. De repente, ser amado por alguém é tipo isso. É passar a vida acreditando em uma coisa sobre a qual você talvez só vá ter certeza quando chegar ao fim.
- Ao fim de que?
- De tudo.
- Você acha?
- Ahãn.
- Pô, mas aí... pô... chato isso, né?
- Sempre é. Mas nem faz muita diferença.
- Não?
- Não.
- Por que?
- Você não tem como ter certeza de que ela te ame ou se é só da boca pra fora, certo? E ela não tem certeza se você a ama assim também. Então te pergunto: você já conseguiu evitar amar alguém só porque esse alguém não te amava?
- Não.
- Então, meu caro, nem tenho mais nada pra te falar. Acredite no que quiser, relaxe, curta o que você tem se te faz bem e siga em frente...
- Tá certo...
- Falei que não valia a pena ficar pensando nisso.
- É. Mas tá beleza. É isso aí. Você saca das coisas, cara. Sério, você é mestre.
- Que nada. Eu só tô tentando. Que nem todo mundo.
- Então.
- Então.
...

- Escuta, o Fluminense ganhou ontem?
- Fluminense? Não, ganhou não. Perdeu, dois a zero.
- Sei. Me passa esse paliteiro aí.
- Claro.
- Valeu.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

86'd

Hoje não quero escrever nada meu. Hoje quero passar um poema de Charles Bukowski, um dos meus escritores preferidos. Sempre bêbado e fã de corridas de cavalos, começou sua carreira tardiamente e nunca foi famoso por sua doçura...
Eu o prefiro por seus contos e romances do que por seus poemas, mas este em especial, chamado 86’d, sinto imensa necessidade, no momento, de expor aqui. Abaixo segue ele, na tradução para o português feita no livro Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski por Jorge Wanderley.

“o que mais compromete o trabalho
é
tentar fazê-lo
sob uma bandeira
santificada.
a semelhança das intenções
com as dos outros
distingue o idiota
do descobridor

você pode aprender isso em
qualquer
sinuca de esquina, jóquei, bar,
universidade ou
cadeia.

as pessoas correm da chuva mas
sentam
em banheiras cheias
d’água.

é bem desanimador saber que
milhões de pessoas estão preocupadas com
a bomba de hidrogênio
embora
já estejam
mortas.

mesmo assim continuam querendo
mulheres
dinheiro
fazer sentido.

e finalmente o Grande Bartender se inclina pra você
branco e puro e forte e místico
e diz que pra você já
basta
logo quando você acha
que está justamente
começando.”

sábado, 7 de julho de 2007

Girafas

- Paiê!
- Ãhn.
- Paiê! Quê que é aquilo?
- É uma girafa.
- Por que?
- Como assim "por que"?
- Por que aquilo é uma girafa?
- Bom... sei lá por que. Alguém decidiu que era girafa e pronto.
- Quem?
- Hummm... Deus.
- Deus trabalha no zoológico, pai?
- Não.
- Então ele é o dono?
- Algo por aí.
- Ele é o sócio?
- Não! Olha só, Deus não é o dono do zoológico, nem sócio, mas foi ele quem fez a girafa, você e eu.
- Então por que você e eu não somos girafas?
- E pra que você queria ser uma girafa, garoto? Dê-se por satisfeito de não ser um macaco!
- E por que eu não sou um macaco?
- Porque você evoluiu, só isso!!!
- O que é "evoluiu"?
- Ai, que saco... Quer dizer que você não tem rabo, anda em pé, sabe falar e come alimentos cozidos!!! E mais, o polegar do seu pé virou o dedão, mas na mão continuou sendo polegar!!! Por isso você consegue ficar ereto, correr pra fazer as coisas que tem que fazer, usar ferramentas, usar computador, usar celular, estudar coisas que outros evoluídos inventaram, arranjar um emprego que pague bem, ter dinheiro pra comprar coisas, arranjar uma mulher, construir uma família, sustentar essa família e assistir televisão!!! ENTENDEU AGORA?!?!
- Mas pai...
- O QUÊ É?!?!?!
- Isso é bom?
- ...

O pai olha para o filho por um tempo, agora já com ternura no lugar da impaciência. Pega o menino pela mão. Calmamente, aproximam-se da grade das girafas. Ele pensa um pouco, lábios cerrados. Eles observam os animais comerem as folhas das árvores, placidamente. O menino olha para o alto, fitando o rosto do pai, esperando, pisca os olhos duas vezes, com expressividade, como só uma criança faz. Ainda olhando para as girafas, o homem franze a testa em dúvida, aproxima seu filho puxando-o levemente pelo ombrinho com sua mão imensa de adulto.

- É, meu filho... Por que Deus não nos fez girafas?

07/07/07

Olá e obrigado por visitar este blog. Fiquei sem computador por um mês, mas agora está tudo voltando ao normal, inclusive as atualizações daqui, que sempre pretendi manter semanais.

Espero que seja simbólico de um jeito bem positivo, mas justamente hoje é o dia 7, do mês 7, do ano 7, e ainda por cima caiu num sábado, que é o sétimo dia da semana. Alguém sabe me dizer se isso é bom? Black Francis já dizia que man is 5, devil is 6, God is 7, mas até aí morreu Neves. Será que isso significa que hoje é o dia mais sagrado de todos? Pena que eu não escrevi isso às 7 da manhã...

Bom, seja como for, este post é apenas para marcar o retorno após tanto tempo afastado deste blog. Daqui a alguns minutos publicarei algo novo, algo que se possa ler de verdade.

Feliz sábado 07/07/07 pra vocês!!!

P.S.: Alguém aí sabe quem foi esse tal Neves que morreu e até hoje é citado como sinônimo de algo que não fez diferença alguma pra ninguém?