segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Táxi



Quando saio pra curtir (entenda-se “beber mais que o recomendável”), deixo minha moto em casa e vou de ônibus, já sabendo que o retorno será de madrugada, de táxi. Gosto de andar de táxi batendo papo com o motorista. Alguns são caladões, alguns são maneiros, mas esse da história abaixo foi novidade: era maníaco-depressivo.
Aconteceu há um bom tempo, mas só me lembrei de escrever aqui hoje, talvez por falta de coisa melhor pra contar. Saí do Circo Voador, entrei no táxi e o motorista puxou a conversa:

- E aí, chefe? Muita mulher?
- Ah, sim. Como sempre. Ma hoje eu tava só querendo curtir o show, ouvir boa música, nada demais.
- Que isso, rapaz? Nenhuma que valesse a pena?
- Sei lá, eu apenas não tava interessado, sabe? Tô ainda ressabiado com o fim de um namoro...
- Pô, rapaz, eu sei como é. O nome da minha era Isabela, vou te contar como foi.

Sabe, neste momento eu pensei: “acho que esse cara não entendeu... EU sou o passageiro, EU vou pagar a corrida, então EU é que tenho que contar meus problemas pra ele, e ELE é quem tem que me ouvir, não o contrário!!!”. Mas quando percebi, já era tarde demais. Ele já contava sobre sua tragédia pessoal, e sobre Isabela. Foi algo assim:

- Rapaz, até uns oito meses atrás eu tinha tudo na vida: era sócio de uma concessionária, tinha minha Isabela (a mulher da minha vida), era feliz. Daí, um dia a Isabela chegou pra mim e disse que estava cansada de tudo, que não queria ter mais nada comigo, assim, do nada. Disse que iria pra casa da mãe, em Minas. Ela falou isso numa tarde, no dia seguinte já tinha ido. VAGABUNDA, PIRANHA!!! Fiquei arrasado, faltei ao trabalho a semana inteira, só chorava... Voltei à loja na segunda-feira seguinte, cheguei pra trabalhar e o que eu encontro? A loja fechada! Não tinha mais nenhum carro, os computadores não estavam nas mesas, a porta estava trancada com corrente e cadeado, meu sócio não estava lá. Liguei pra ele (o sócio), e ele me disse que estava rompendo a sociedade, fechando tudo, que iria se destinar a outros negócios, porque dali não tava saindo dinheiro. FILHO DA PUTA, VIADO!!! Em uma semana perdi a mulher da minha vida, meu trabalho, e depois meu sócio sumiu com o dinheiro me era devido...

Neste ponto, ele já contava a história com os olhos marejados, e olhando mais pra minha cara do que pra frente. Não preciso lembrá-los de que era ele quem estava dirigindo o táxi, certo? Isso me preocupou levemente. Fiquei com medo de que se o sócio tivesse fugido com a Isabela, ele arremessasse o táxi contra um muro e me levasse de carona num suicídio meio fora de hora, mas não foi o caso. Ele continuou:

- Olha aí!!! Abre o porta-luvas aí!!! Pode ver ó, só tô aqui trabalhando porque tô à base de tarja preta!!! (ele abriu o porta-luvas, pegou a caixa – com tarja preta – e a sacudiu com veemência, depois jogando-a de novo no porta-luvas, sem fechá-lo) O pior de tudo não foi ficar sem dinheiro, sem trabalho... foi perder a Isabela. Mas um dia eu vou atrás dela em Minas, ela não sabe que agora eu tô de táxi... daí eu me acerto com ela, ela vai ver. Esse meu sócio eu ainda encontro também, ele me paga!!! Desgraçado, filho de uma puta!!!

O táxi zigezagueava pela Linha Vermelha, mais do que se fosse eu mesmo indo a pé, bêbado como estava. Por fim, chegamos na esquina da minha rua, eu olhando pro porta-luvas aberto sobre meu colo, onde se via vitoriosa a caixinha (não vi o nome, o remédio ficou conhecido apenas como “tarja preta”). Com o alívio de quem descobre que o pára-quedas abriu direitinho, paguei ao motorista, desci do táxi, desejei boa sorte e disse “vai com Deus, amigo”, no que ele me retrucou, sorrindo:

- Não conto com Deus pra mais nada não, amigo. Eu só conto comigo, e mesmo assim só depois de tomar o meu remédio!!!

Ok, então. Eu não seria tão otimista quanto ele, mas tudo bem.

Isabela, se você estiver lendo este blog, ouça meu conselho: saia de Minas, faça uma plástica e troque de nome. E cuidado, muito cuidado com o próximo táxi que você pegar...

4 comentários:

mario elva disse...

Você inventou essa história, confessa...

Marcos AM Ramos disse...

Chefe, o senhor sabe bem que caras como nós não precisam inventar essas coisas, elas nos perseguem... E não se esqueça: foram dezenas de viagens em dezenas de táxis para retirar uma história digna de postagem.

Anônimo disse...

Como eh que pode!!! Pobre mulher... mas esperta, jah tinha tudo planejado, foi mais um "Partiu" que um termino comum. Se mandou...
hihihi eh engracado de tao tragico!
beijos

B. disse...

Não ri pouco dessa história...
Obrigada pela diversão!!!