domingo, 5 de agosto de 2007

Nós

Sexta-feira fui ao show de lançamento do DVD da PLOC 80’s 2, no Circo Voador. Antes de entrar, já sabendo que ia passar a madrugada pulando e sem comer mais nada, fui saborear um espaguete lá no Nova Capela. Enquanto eu jantava eu tomava umas caipirinhas, e quero que você me prove que aquelas caipirinhas não levavam milho. Sério, parecia que eu estava bebendo suco de pamonha com limão, algo muito bizarro. Foram as caipirinhas com a receita mais estranha que já tomei: limão, cachaça, açúcar e curau.

Já que na TV passava um jogo de futebol que não me interessava nem um pouco, fiquei observando o ambiente ao meu redor e flagrei a cena: acredite em mim, esses senhores estavam sentados a duas mesas de distância um do outro, mas estavam conversando! O senhor à sua esquerda já estava lá, bebendo sozinho. O outro, o grisalho, à direita, chegou depois sozinho também e pediu uma bebida. O senhor da esquerda começou a falar algo, o da direita respondeu, eu sinceramente não entendia uma palavra sequer mas sabia que estava rolando um diálogo simpático, e mesmo assim ninguém se levantou de onde estava para sentar-se com o outro, e assim foi.

O senhor grisalho levantou-se, despediu-se do outro e foi embora. Imediatamente, o senhor da esquerda que voltou ao seu estado inicial de solidão, perdeu o sorriso que mantinha durante o diálogo, voltou a ter a expressão séria e imóvel de antes, deu um gole em sua bebida, e assim foi. Me diga você, então, o que é solidão?

Depois dali fui ao Circo Voador, mas por algum motivo falar do show parece já não caber aqui, agora. A minha caminhada solitária pela Lapa, as pessoas que vi, os trechos de frases que ouvi, os batuques, os ritmos, os gritos, os silêncios, as luzes e as escuridões, públicas e particulares... Tantas pessoas andando sem parar, outras em pé por horas, outras dormindo pelas ruas. Tantos shows e tanta desgraça, uma sensação de estar engolido pelo caos, por um pedaço de inferno na terra que, apesar disso, é tão atraente.

O espaguete ao sugo que comi estava ótimo. Das 5 caipirinhas que tomei (e que enriqueceram meus pensamentos naquela noite), as duas primeiras provavelmente tinham milho na receita, mas as outras 3 tinham algo difícil de dizer... Acho que elas tinham Lapa, tinham som, tinham pessoas fazendo mil coisas ou nada em especial, e tinham, especialmente, a mim naquela noite.

Eu estava lá, naquelas caipirinhas, no Circo Voador, na Lapa, no Rio de Janeiro, no Planeta, no universo, mas o mais importante, eu percebi que eu estava ali em mim. E foda-se se eu estiver sendo piegas, foi o que senti e é o que quero escrever aqui, pois foi exatamente assim.

E depois de muito cansado, fui para casa dormir, e dormi bem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Solidão é um estado de espírito, é uma forma de sentir que independe do externo, de quem possa estar por perto ou por longe...o segredo é poder se enxergar, reconhecer-se, porque assim, pode-se estar sozinho sem sentir peso na solidão, sentir é um puta alívio de estar em tão boa companhia, você mesmo com a sua pessoa, em carne osso e vibração!!!

beijos

mario elva disse...

Acho que você foi possuído pelo espírito da Lapa. O que me leva a agradecer por não ir a esses lugares, já que sou muito macho e esse negócio de ser possuído não é comigo não.