quinta-feira, 2 de junho de 2011


Quero passar os últimos dias da minha vida lá, numa casinha minha que seja impecavelmente branca, cercada por campos de lavanda, num lugar onde só chova nos dias em que eu quiser tomar chá de baunilha. Quero ouvir músicas boas e decidir se canto junto.

Quero a companhia eterna da mulher que eu amar, que saibamos manter nossos silêncios quando percebermos que precisamos de nossas solidões momentâneas. Que nossos filhos crescidos venham vez ou outra nos visitar. Nossos netos ficarão para passar um fim de semana, um feriado, metade das férias até. Nossos animais de estimação serão quaisquer e serão queridos. Estaremos no interior, mas não estaremos longe do lago.

Quero que a cidade mais próxima com centro comercial seja modesta, limitando minhas possibilidades de escolha sobre o que vou comer, o que vou beber e com o que vou me perfumar, para que assim eu possa me concentrar em outras coisas que me tragam os prazeres reais. Quero que na praça haja uma boa banca na qual comprarei as revistas e os jornais. Quero que todo mundo me conheça pelo nome, e quero conhecê-los também. Espero que tenham motivos para sorrir pra mim ao me cumprimentar.

Quero acompanhar o anoitecer na varanda, sentindo o ar esfriar aos poucos, conversando com seja quem for sobre notícias, temas da vida, reflexões, ponderações, achismos, conclusões, recomendações e provocações. Teremos que acender um fogo para a fumaça espantar os mosquitos, mas tudo bem porque até que gostamos do cheiro da fumaça que vem daquelas palhas, daquelas madeiras. Alguns de nós terão que passar Autan, mesmo tendo acabado de sair fresquinhos do banho. As crianças vestirão pijamas e jogarão antigos jogos de tabuleiro. Elas perderão muitas pecinhas que jamais serão substituídas, pois nada se parece com aquelas pecinhas.

Dormirei o quanto quiser e acabarei desenvolvendo o gosto por acordar cedo, só para poder tomar café da manhã com o mundo ainda frio.

Então a minha vida toda terá valido a pena, porque cada dia vivido valeu a pena, e escreverei todas as histórias que me vierem à cabeça, até que a última, infelizmente, reste incompleta.

12 comentários:

Flavia disse...

Ah,Marcos,que lindo!
Aqui onde eu moro tem quase tudo isso, você apenas teria que ter vontade de chá de baunilha quase todos os dias durante o longo inverno.
Você com esse texto fez com que eu me desse conta de que eu tenho tanto...
Por que será que mesmo assim ainda falta?

Tatiana Sandim disse...

Marcos, com certeza, minhas visitas aqui valem a pena. Todas elas.
Quero tudo isso também. E também quero que antes de dormir ao lado de quem amo, eu tenha muitos assuntos para conversar e que ele tenha prazer em esquentar meus pés que nas noites frias insistem em ficar gelados...
Quero ter prazer em cozinhar para a minha família. Fazer pratos simples com tamanho carinho e dedicação que cheiro do café sempre desperte neles lembranças de boas conversas ao redor da mesa.
Me sinto feliz ao pensar que meu comentário anterior te tirou de um devaneio e você pode escrever esse lindo texto.
Tenho um domingo menos frio e atarefado agora...
Um beijo!

Unknown disse...

O cheiro de lavanda, as coisas todas brancas, parece o sonho de Elis cantado em Casa no Campo, sendo que ela não mencionou a lavanda de deixa para o texto ora escrito.
É deveras sedutor esse universo ao mesmo tempo suave e sólido, pra não dizer profundo. A acolhida da vida mais simples, acaba deixando ver o quanto ainda ha para se aprender.

Walquiria disse...

Leva eu com vc?

Bjs doces

Estava com saudades de ler-te.

Walquiria disse...

Tão bom ter vc no meu cantinho...

Bjs doces de agradecimento

PRISCILLA REIS disse...

Adorei conhecer o teu cantinho na Web. Por alguns minutos estive num "futuro-presente", lendo este texto! Bom demais! Delícia de leitura!
Foi um prazer conhecê-lo!
Bjs.

Gabi disse...

Então, casamos?

Marcos AM Ramos disse...

Fico feliz de ver meu blog visitado e comentado pelas meninas, muito mesmo! Se tem uma presença da qual eu faço questão aqui é da alma feminina refletindo, brilhando, perfumando. Suas ideias, seus jeitos e sua companhia sempre tiveram (e terão) meu maior apreço.
@Monique: se essa vida acontecerá pra mim, não sei, mas apenas sonhar com ela já refresca minhas expectativas. É bom libertar-se, ainda que só a mente, ainda que só por uns momentos.
@Flavia: sempre há algo fazendo falta, e sentir isso é tão humano. Desfrute bem do tanto que você tem e um dia você agradecerá a si mesma por ter aproveitado tudo isso em suas mãos, mesmo quando alguma outra coisa faltava. É o que tento fazer. Veremos, veremos... Muito obrigado por sempre vir aqui e comentar, fico lisonjeado =)
@Tatiana: foi, sim, graças ao seu comentário que nasceu esse texto. Você me deu o "click" que me tirou de um transe nocivo. Obrigado, de coração. Além disso, nesse seu comentário de agora, você sintetizou o que eu tentei passar com meu texto. É bom sentir que te alcancei assim, sentir que fazemos algum efeito positivo nas pessoas é bem legal!
@Elis: é verdade, eu tentei seduzir minhas leitoras com um texto de sensações e sentimentos. Tentei passar pra vocês os cheiros que me agradam, as temperaturas, o seco e o úmido, e algum bem-estar onde se fica de "bem" só de se "estar", se me perdôa o trocadilho. Não apenas sonho, eu realmente almejo essa vida mais simples. Não é a hora agora, mas eu saberei quando buscá-la. Obrigado pela presença e pelos comentários, sempre.
@Walquiria: por enquanto, só posso te levar neste lugar pelo trem onírico que passa onde ele se encontra. Se um dia partir da estação do imaginário e vier aqui pro nosso mundinho concreto, eu te mando um bilhete e te espero na varanda, ok? Ah, e me perdôe por ter demorado tanto a conhecer o teu blog, não serei mais tão relapso. Obrigado pela doçura de sempre!
@Priscilla: que bom que você já apareceu por aqui! Também foi um grande prazer te conhecer, e já fui lá no seu blog retribuir o carinho. A gente se vê em breve em algum outro evento musical, quero conhecer suas outras produções. Vou ficar antenado para as próximas que ocorrerem no Bukowski.
@Gabi: oi, bem-vinda. Pena eu não ter como saber quem você é, Gabi, mas se a ideia do texto "Lá" te seduziu assim a esse ponto, você me parece ser alguém de gostos sublimes. Legal isso de você ter ido tão direto ao ponto, mas sabe como é, minha mãe não deixa eu me casar com estranhas, espero que você entenda. Obrigado por ter visitado e comentado. Volte sempre!
Um grande beijo e um abraço apertado pra vocês!
Novo texto em breve =)

Walquiria disse...

Ah, Marcos... qlqr dia eu chego por aí.

Gostei da ideia de esperar-me na varanda (suspiro) rs


Bjs doces e abraços pertadinhos


;)

Aninha Zocchio disse...

Olá... gostei!
Seguindo!!

Unknown disse...

sonho de todos....

Unknown disse...

Esses sonhos levam tempo pra gente construir, então, se a demora em começar consumir mais tempo do que teremos para construí-lo, fica uma equação, digamos, difícil de fechar... A gente faz a hora, não espera acontecer!
O desafio de mudar é sempre grande, mas vale a pena. Da minha conquistada casinha branca eu te digo, há domingos que são assim, mesmo que algumas terças não sejam! Beijos, querido. Daqui na torcida!