domingo, 26 de junho de 2011

Socorra-se


Estou quase sempre conectado ao facebook enquanto estou online. Eu gosto da interface, gosto da aparência e da dinâmica do site. Me exponho bastante lá e achava até que me expunha demais. Pra variar, observar o comportamento dos outros sempre dá uma luz sobre aquilo que penso de mim mesmo, e pelo visto sou um amador em matéria de auto-exposição.

O número de pessoas pedindo socorro através de suas mensagens é imenso. Geralmente em indiretas (?) para ex-amantes ou colegas de trabalho que pipocam entre frases depressivas ou relatos de uma vida cheia de vazios. Em geral, eu entendo perfeitamente esse tipo de atitude devido ao meu histórico e à minha própria inevitabilidade de transparecer meu estado emocional, mas acho que manter essa vibração repetitiva destrói o indivíduo se ele não se esforçar para mudar de direção. As ondas ressonantes alcançam os outros transmitindo uma sensação ruim, um mal-estar às vezes. Acredito que o erro está em contar com a iniciativa dos outros para melhorar seus dias quando seu esforço é pífio para abandonar uma romantizada auto-piedade.

Ficar publicizando seu sofrimento ao mesmo tempo em que sua auto-afirmação tenta propagandear suas qualidades acaba transmitindo uma mensagem confusa para os outros e, assim, a primeira e mais importante informação que você queria transmitir (que é "me liguem, me convidem, me chamem pra sair") se perde entre os disfarces e atrás das máscaras. Ao mesmo tempo, ninguém quer parecer fraco, carente ou dependente do carinho alheio, pois é fato que aqueles que enxergamos assim não costumam ser nossas primeiras opções como companhia.

Ah, mas você vai me dizer que você não é assim, né? Você dá companhia aos que estão na fossa, estende a mão aos coitadinhos, dá o ombro para chorarem rios. Não duvido que você seja assim, mas para mim o seu erro é se você espera que os outros sejam assim contigo. Não utilize-se como parâmetro para ninguém.

Por isso, quero dizer do fundo do meu coração a todos os que se encontram na merda: se virem. É isso mesmo, se virem, não contem com ninguém, não esperem pela ajuda divina ou terrena, pois ela dificilmente vem (eu queria escrever que ela nunca vem, mas a vida é muito cheia de histórias estranhas e, bem, nunca se sabe). Não joguem sobre as costas dos outros a responsabilidade pelas suas alegrias, sua felicidade. Eu já fiz isso na minha vida e sei que não adianta, não funciona e não compensa. A gente termina um relacionamento e pensa "depois de tudo que fiz por ela...", pois adivinha? Você fez o que quis e porque quis. Você fez de coração, e o que se faz de coração se faz desprovido da espera por retorno. Não espere nem por consideração, pois se "tudo aquilo" que você fez é condicionado à retribuição em qualquer nível que seja, então você não fez puramente por amor, fez por interesse: interesse no que poderia obter em recompensa, ainda que essa recompensa fosse apenas amor de volta. Acontece que tenho pra mim que o amor é uma via de mão única, ele independe, e por mais que seja maravilhoso receber amor em retorno, contar com isso (e perceber que isso muitas vezes não acontece) é o que traz toda essa dor e sofrimento.

Ajude-se, mova sozinho as engrenagens que você puder e, talvez, ao sair da inércia em que se encontrava, as pessoas se sintam mais voluntariosas a fazer com que todas as outras rodas dentadas entrem em funcionamento. Use seu facebook para escrever textos bonitos, contar histórias curiosas, divulgar vídeos ou músicas interessantes, ou mesmo para perguntar se a galera tá afim de fazer um programa X, mas tem que ser um programa que você fará ainda que sozinho, pois sempre há a possibilidade de nenhum dos seus 384 contatos responder ou de os 9 que responderem simplesmente darem bolo sem maiores explicações. Nada disso pode te afetar negativamente a partir do momento em que você sabe que esse é um mundo do contra.

Qualquer resposta negativa já era esperada. Qualquer reposta positiva é uma gratíssima surpresa! Não sou eu que estou dizendo isso, são os fatos, é a nossa experiência, é a vida como ela tem sido até o momento.

Faça a sua parte, eu faço a minha, qualquer hora dessas estaremos fazendo nossas respectivas partes em conjunto, mas não espere que eu faça a sua parte por você. Sua vida é sua responsabilidade, cuide bem dela pois ninguém vai fazer isso se nem você o faz.

quinta-feira, 2 de junho de 2011


Quero passar os últimos dias da minha vida lá, numa casinha minha que seja impecavelmente branca, cercada por campos de lavanda, num lugar onde só chova nos dias em que eu quiser tomar chá de baunilha. Quero ouvir músicas boas e decidir se canto junto.

Quero a companhia eterna da mulher que eu amar, que saibamos manter nossos silêncios quando percebermos que precisamos de nossas solidões momentâneas. Que nossos filhos crescidos venham vez ou outra nos visitar. Nossos netos ficarão para passar um fim de semana, um feriado, metade das férias até. Nossos animais de estimação serão quaisquer e serão queridos. Estaremos no interior, mas não estaremos longe do lago.

Quero que a cidade mais próxima com centro comercial seja modesta, limitando minhas possibilidades de escolha sobre o que vou comer, o que vou beber e com o que vou me perfumar, para que assim eu possa me concentrar em outras coisas que me tragam os prazeres reais. Quero que na praça haja uma boa banca na qual comprarei as revistas e os jornais. Quero que todo mundo me conheça pelo nome, e quero conhecê-los também. Espero que tenham motivos para sorrir pra mim ao me cumprimentar.

Quero acompanhar o anoitecer na varanda, sentindo o ar esfriar aos poucos, conversando com seja quem for sobre notícias, temas da vida, reflexões, ponderações, achismos, conclusões, recomendações e provocações. Teremos que acender um fogo para a fumaça espantar os mosquitos, mas tudo bem porque até que gostamos do cheiro da fumaça que vem daquelas palhas, daquelas madeiras. Alguns de nós terão que passar Autan, mesmo tendo acabado de sair fresquinhos do banho. As crianças vestirão pijamas e jogarão antigos jogos de tabuleiro. Elas perderão muitas pecinhas que jamais serão substituídas, pois nada se parece com aquelas pecinhas.

Dormirei o quanto quiser e acabarei desenvolvendo o gosto por acordar cedo, só para poder tomar café da manhã com o mundo ainda frio.

Então a minha vida toda terá valido a pena, porque cada dia vivido valeu a pena, e escreverei todas as histórias que me vierem à cabeça, até que a última, infelizmente, reste incompleta.