quarta-feira, 22 de julho de 2009

.apenas



Caindo totalmente na minha prória contradição, confesso que preciso escrever aqui meus achismos sobre o tão falado filme de estréia de Matheus Souza, cujo título se escreve ".apenas o fim.", com um ponto no começo e outro no... fim.

Não foi a simples presença de Erika Mader que me levou à sessão das 18:45 do Odeon naquela terça-feira, dia 21 de julho. Eu realmente estava curioso sobre o filme, primeiro porque o estilo me agrada (ao mesmo tempo que me atemoriza), segundo porque eu já estava com três pedras na mão desde que comecei a ler as primeiras críticas, bem como as primeiras entrevistas do já citado Matheus Souza.

A verdade é que, apesar dos pesares (expressão que me desculpa de qualquer contradição óbvia e ainda me produz as possibilidades de arrependimento sobre o que vou escrever aqui), eu gostei do filme sim. É bom saber que parece haver espaço para filmes nacionais que mostram alguma coisa dentro da qual não precisa acontecer "algo chocante". O que quero dizer é que o mote inicial e central é mesmo o principal e segue intocado até o final, não há mistério a ser revelado, não há reviravolta, o que é dito no começo (aparentemente) se mantém, e ponto. Ponto no começo e ponto no final.

(Pare de ler agora se não quiser saber o que acontece no filme.)

O filme começa com a namorada chegando pro namorado (estudante de cinema na PUC, dentro da PUC) e dizendo taxativamente que em uma hora ela irá embora, de vez, pra sempre, rumo a um lugar jamais revelado, e concede ao menos a escolha de
a) passar a próxima hora fazendo muito sexo; ou
b) passar a próxima hora conversando e andando pela PUC.

O cara escolhe a segunda opção, o que me parece óbvio se o rapaz realmente não quer que a namorada saia da vida dele de vez e desapareça. E daí segue-se algo que me lembrou muito "Antes do Amanhecer" (roteirizado por Richard Linklater e Kim Kriza), pois há muita conversa, muita cumplicidade, a certeza de que ao fim vai haver uma separação que já foi preconizada e que a tristeza deste fato deve ser ofuscada sob o propositalmente (e quem não faria assim?) forçadíssimo e nervosíssimo senso de humor realizado através das piadinhas sóbrias, espirituosas e inteligentes, além das leves e constantes ofensas mútuas.

A verdade é que o filme me gerou uma imensa tristeza desde o primeiro minuto. Claro que ri com uma ou outra das piadas, isso se deu algumas vezes sim, e concordo plenamente que o Bulbassauro é o melhor Pokemon (isso é indiscutível), mas convenhamos, só um filme com muita projeção por parte de quem o escreveu colocaria um nerd com calvície e sem culhões como o ser amado por uma gata do calibre da Erika Mader. Dá licença, mas embora muito do que aconteça no filme seja identificável e o fim seja o que aconteceria mesmo (ponto para o roteiro!), não dá pra acreditar que aquele casal se fez. No entanto, dá pra acreditar na sua dissolução. O filme se chama ".apenas o fim.", se justifica por isso e merece, portanto, meu reconhecimento como honesto. É o filme de um estudante de cinema da PUC contando um momento "fatal" na vida de um estudante de cinema da PUC que não é ele mas é.

O foda é eu ter que admitir que sentir que muitos momentos do filme são previsíveis me coloca pelo menos como alguém irmanado com o autor da história, especialmente pelo fato de que eu disse à minha companhia "não levanta agora não, esse filme COM CERTEZA tem cena depois dos créditos". E tinha. E achei válida! Metalinguagem da hermenêutica que seja, me agradou sim ver a cena após os créditos...

Minha confissão é a de que senti um peso, uma tristeza danada durante o filme inteiro, do começo ao fim, então acho que gostei, por mais que tenha achado as falas muito forçadas, afinal são as sacadas da mente de uma única pessoa distribuídas nas vozes de dois personagens distintos (o mesmo erro que acomete quem escreve as novelas das sete). Minha acompanhante achou o filme uma comédia muito divertida. Acho que isso vai ser uma constante, esse fato de que mulheres e homens terão necessariamente opiniões opostas sobre o filme.

Parabéns ao Matheus Souza, que foi capaz de me fazer gastar uma hora e quarenta e cinco minutos escrevendo esse post sobre seu filme. Parabéns ao Gregorio Duvivier que não me desapontou na série "O Sistema", fazendo ponta em "A Mulher Invisível" e agora em ".apenas o fim.". E parabéns, mil parabéns aos pais da Erika Mader, que com certeza estavam muito inspirados na noite de sua concepção. Ela esteve perfeita no papel de "mulher-que-está-numa-boa-mas-do-nada-resolve-que-precisa-ir-embora-porque-não-está-satisfeita-com-as-coisas-como-estão-mesmo-que-esteja-tudo-legal-e-achando-que-não-vai-ficar-satisfeita-com-as-coisas-como-ficarão-e-fode-a-porra-toda-mesmo-assim-já-que-afinal-isso-não-faz-sentido-mas-foi-o-que-deu-na-telha-dela". Até me pergunto se ela de fato estava atuando ou apenas reproduzindo o usual.

Moral da história: quando você tiver a possibilidade de fazer um filme, não resista à tentação de desenvolvê-lo numa narrativa semi-autobiográfica cheia de meta-referências. Jogue nele todos seus desejos, depois jogue sobre isso todas as suas frustrações, então chame a Erika Mader e filme tudo. Como justificar tudo isso, aí não sei. Suspension of disbelief, talvez.

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