quinta-feira, 22 de maio de 2008

Realidades



Ah sim, eu a sinto, a conheço e a quero, mas ela existe? E eu, existo, só porque penso? Será que ela é um sonho meu, ou eu sou um personagem dentro de um sonho dela? E se ela ou eu não existirmos que não dentro de um sonho, meus sentimentos são menos reais por isso? Gostar, querer bem, admirar, apreciar a companhia, sentir saudade... Conheço isso tudo, não sei se isso é amar (se é que amor existe como um algo à parte). Não sei se já soube mesmo disso ou se apenas tive uma noção de algo que, ao comparar com o que contam por aí, achei justo nomear "amor" ainda que não o fosse. Mas bem, sobre isso já falei exaustivamente na postagem Roma, em algum lugar do passado deste blog.

Meu retorno a este assunto hoje é breve, quase nada a ver, apenas pra expor as conturbações deixadas em minha cabeça (que já não é pouco conturbada) pelas reflexões de filmes como O 13º Andar, Donnie Darko, Cidade dos Sonhos, Sublime, Waking Life, eXistenZ, e por que não, Matrix.

Isso aqui é real? É sonho?
O sonho é menos real do que aquilo que vivemos no estado de vigília?
Se neste momento eu estivesse sonhando, eu estaria fazendo estas perguntas?

Sentimos o mundo através das percepções que são transmitidas ao nosso cérebro e que por ele são interpretadas, e é através deste mesmo processo que sentimos o que vivenciamos durante os sonhos. Isso explica por que tudo nos parece tão real enquanto sonhamos: porque é real. É como o amputado que sente doer a perna que já não tem mais: essa dor é real, ele a sente! Você corre de monstros, zumbis ou demônios durante um sonho, pois os teme de verdade, em um sonho não há absurdos: um armário pode virar um elefante e sair voando, e ok, tudo bem, você não vai dizer pra si mesmo "mas isso é impossível!!!", você vai apenas aceitar que é assim. Então me diga: se amanhã, durante seu expediente, um anjo com uma espada de fogo entrasse pela janela do escritório em meio a uma chuva de sapos, você simplesmente olharia, diria "isso é impossível" e continuaria a digitar em seu computador?

Já não sei o quanto posso confiar no meu cérebro, nas minhas sensações ou nos meus sentimentos. Já estive em lugares e fiz coisas que agora só existem na minha memória, e já sonhei que estive em lugares (onde nunca fui fisicamente) e fiz coisas apenas em sonhos que, igualmente, agora só existem na minha memória, e posso garantir que, ao pensar em todas essas situações, as imagens e sensações são idênticas. Se eu medir apenas pela memória, posso afirmar que dá no mesmo. Ou você nunca se perguntou "caramba, eu fiz mesmo isso ou sonhei que fiz?"

Já não sei mais. Simplesmente não sei, mas isso não me assusta. Pelo contrário, acho que me deixa calmo de certa forma, pois chegar nesses paradoxos me diverte. Pensar, pensar, pensar e não chegar a lugar nenhum é o que há. Melhor que isso, só sexo. E montanha russa.

Então eu sei gostar, querer bem, admirar, apreciar a companhia, sentir saudade de alguém, e faço disso tudo minha forma de amar, pois no geral, o que vejo muito por aí é alguém que cisma com outro alguém e diz que isso é amar. Não quero mais cismar com ninguém, já tem um tempo que parei com aquela busca ridícula de sentir um certo sentimento ímpar e indescritível mas que insistem em descrever. Eu já sei o que quero, e o que eu quero é a boa companhia de alguém de quem eu goste, queira bem, admire, aprecie a companhia e sinta falta quando ausente, meu par, minha parceira. Tendo tudo isso, você acha mesmo que vou reclamar de não ter sentido "aquele arrepio" ou o "algo especial"? Fala sério, tudo isso que descrevi É algo especial, e é tão real quanto todo o resto. Se ela sentirá o mesmo por mim eu não sei. Se ela disser que sente, jamais terei certeza disso, e nada disso importa, mas disso eu também já tratei no passado deste blog, na postagem Certeza.

Nessa existência(?) de verdades relativas, muita gente fica sofrendo em busca de uma merda de verdade absoluta e sentimento supremo que não existem. O que me parecer real e eu acreditar ser real será real, ainda que não o seja em si. E então, que seja como for.

2 comentários:

j disse...

Cara, talvez o que você tenha dito do arrepio, do algo a mais não seja nada além de mais uma daquelas receitas "como sentir o amor". Cada um tem o seu e cada um sente o seu. Ainda bem que somos diferentes e não os mesmos biscoitos vendidos em todos os pacotes... Uma pena que até os sentimentos a sociedade moderna e pós-moderna quer etiquetar. Ainda bem que alguns, como você, por exemplo, rasgam, queimam e jogam as cinzas pelo ar dessas etiquetas bobocas.

Giselle Fleury disse...

Engraçado, eu me senti exatamente assim quando vi "Cidade dos Sonhos". O que é real agora? E depois? Realidade tem a ver com perspectiva? Acho que sim.

No trabalho, por exemplo, eu me considero inserida numa realidade paralela tão diferente daquela que eu quero pra minha vida que me sinto "plugada" na matrix enquanto estou lá e "desplugada" quando a semana acaba e eu volto ao meu mundo. Mas, ao contrário do filme, a minha realidade é a que mais gosto...

Enfim, tudo isso só pra dizer que a gente escolhe a realidade que quer viver e tem que viver nela intensamente, sem deixar que as realidades que não gostamos interfiram nas que amamos. E assim vamos vivendo e aprendendo a "desplugar" quando necessário...