segunda-feira, 20 de abril de 2009

Parassonia



Acordo algumas vezes ao longo da noite, quase nunca abro os olhos nessas horas, geralmente porque nem quero ver as horas, mas em muito também porque não quero olhar pros lados, que estarão vazios. Sou grande, mas a cama é imensa, sempre sobram muitos lados vazios para os quais eu poderia olhar buscando em vão o que tenho certeza de que não está lá.

Dá sede, mas não levanto para beber água, pois os fantasmas no escuro da sala podem tentar me pegar. Ainda que sejam os meus fantasmas, os meus próprios fantasmas, ainda assim os temo, pois não me respeitam, como tanta coisa que é minha própria também e faz parte de mim e igualmente não me respeita, não me obedece, como meu cérebro, meu estômago e meu coração. Viro o rosto simplesmente de olhos fechados e volto a dormir com sede e sem sonhos.

Sem sonhos e sem escolha, me deixo relaxar novamente no quarto trancado e apagado, seguro e coberto pelo ruído hipnótico do ventilador, e começo a vislumbrar rosto, sorriso, voz e lugar, até cheiro e tato. Isso não é sonho. É só lembrança. É história.

Assim acontece de segunda a sexta, sempre ou quase sempre assim ou mais ou menos assim, quando por incrível que pareça é o despertador que traz o grande alívio ao tocar uma hora antes do que é preciso, apenas para gerar o prazer negativo de acordar sem levantar, olhar para o relógio e pensar "que bom, ainda tenho uma hora para dormir". Em uma hora chega o segundo e definitivo toque do despertardor, o sol avisando que aquela parte acabou, que a madrugada passou, que agora vem o resto. O eu que tentava dormir some e dá lugar ao eu que tenta ficar acordado. Acontece que, mesmo este, de repente, some também, com a cabeça pesada e cheia, com os olhos pesados e vazios.

Que bom que há ao menos aquela uma hora a mais, mesmo que eu saiba, com Deus e o diabo por testemunhas, que é tudo exatamente como seria se não houvesse.

sábado, 11 de abril de 2009

Elektroschutz



Caso você seja um alemão careca sonâmbulo que costuma sonhar que está esquiando e que apesar de casado dorme de camisa social numa cama de solteiro ladeada por criados mudos sobre os quais existem luminárias metálicas desencapadas cujo isolamento elétrico está em péssimas condições, cuidado: você é um sério candidato a morrer por eletrocução.

Este foi mais um serviço de utilidade pública do DEPOIS DO VERBO.

"DEPOIS DO VERBO: porque nem tudo tem porquê."