quarta-feira, 25 de março de 2009

SIGNS



Há muito tempo não assisto algo tão bacana. Achei esse pequeno vídeo melhor do que muitas das "comédias românticas" que temos visto por aí.

Recomendo. Assistam. São pouco mais de dez minutos, vamos lá... Tenham um pouco de boa vontade, sim?

Espero que gostem.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Bzzzzz



Do meio daquelas lembranças incertas, peguei um pouco de silêncio para usar como se fosse estilo ou charme, sem conseguir convencer os outros espectadores que me permito (uns tantos que dentro de si paravam, mas fora de si passavam desatentos). Se ao menos você estivesse lá para assistir, eu diria que houve mérito em minha tentativa, ainda que desconhecesse ter havido de fato sucesso, o qual pode até ter havido, mas quem liga pra isso afinal quando a satisfação é puramente pessoal e independe de todo o mais? Me levo a crer que tudo passa a ser resto quando só uma específica coisa nos importa, esse é o caso hoje. Isso é um erro e você sabe, é um grande erro quando descuidamos de nossa fé sendo a fé o pouco que nos resta da coisa rala que nem existia mas que achávamos que estava lá. Antes, “nada” simplesmente não era. Hoje, “nada” apresenta-se como a ausência de algo (um dublê de conceito filosófico desses bons e baratos para discutirmos de madrugada), não mais uma etiqueta dizendo “nada” colada sobre algo que assim era considerado e nomeado, como o silêncio que simplesmente não existe, pois sempre há um bzzzzz. Preste atenção. O silêncio não funciona.

Ei-lo aqui: o nada, embrulhadinho para presente como um bebê que a cegonha traz. Sem cartão, no entanto. Desculpe.

Dessa vez, acho que o tal nada pode representar bem uma vida inteira, dormindo todas as noites mais por tédio do que por sono, com lágrimas nos olhos mais por sono do que por tristeza, com dor no estômago mais por tristeza do que por fome, e um pouco angustiado mais por... mais por desamor mesmo.

Mas isso que há, isso aqui que nos cerca sem ser ar (ou silêncio que não é nada pois faz bzzzzz), merece aplausos por ostentar uma etiqueta sem nome, a redundância retórica de tudo que acaba por ter um fim em si próprio. Você é perfeita, parabéns pra você! Oh, eu-te-amo, você tem olhos de tormenta e sempre os traz consigo. De onde saem essas coisas... “Está na Bíblia”, diga: “está na Bíblia”. Dia desses um cara disse isso, talvez pela TV.

Se a sua recordação me veio agora para me cobrar uma confissão, saiba que eu quis fazer o máximo possível, não o melhor possível. O máximo, tudo, tudo o que pude e ainda aprendi mais um pouquinho para tentar fazer mais. Juro. Ainda assim, acho mesmo legal isso agora, já era hora. Ainda bem que estamos todos preocupados com alguma coisa, ainda que seja isso, seja lá o que isso for, por nenhum motivo melhor. Por falar nisso, motivos melhores? Ora vejamos, foi sua tia (não a da peruca, a outra), num arroubo de reflexão afogada em cerveja quente, quem disse certa vez que não há motivos melhores ou piores, apenas motivos, e que ela tinha, sim, seus motivos. Depois vomitou. Lembro porque quem limpou fui eu. Sua tia era uma ridícula. A da peruca também. Sua família toda. Todos naquela festa também. Também todos os que não foram naquela festa, o que se não me engano inclui o resto do mundo, daí então são todos ridículos, incluindo a mim que ainda por cima tive que ficar pra depois.

Espero que fique claro por que quero apenas dormir dormir dormir dormir dormir dormir dormir.

Esqueça



O cansaço faz dormir sentado no meio fio, cotovelos nos joelhos, rosto nas mãos, pés no bueiro. Logo ao despertar, me ocorre que quanto mais próximo do absurdo mais plausível fica. Falo de tudo.

Consegui me lembrar de metade do sonho que tive, mas vou contar apenas metade do que me lembrei: sujeito sem rosto caminha entre portas sem paredes, apontando sombras perdidas no chão, dizendo coisas pedantes do tipo “Sou o senhor de tudo que nunca foi feito, das vontades irrealizadas... Senhor do que deveria ter sido dito, mas que por medo foi engasgado”. Eu não digo, mas penso que aquilo não tinha como ser sério, mais por pura falta de paciência do que por querer ser irônico, então ele some em vapores. Tinha sonhado com algo que vi um dia numa rua. Nem me lembrei direito do sonho na manhã seguinte (como já disse), até porque quando acordei aquela manhã já tinha passado. Acho que o “senhor” de tudo isso etc. deveria ser eu, que acordei já era tarde e ninguém me censurou por isso.

Esqueci, não havia ninguém.

Não tenho por que negar, levei mais tempo do que gostaria pensando em algo que não queria. Cenas de sexo intercalavam-se com minhas lembranças das palavras ou trechos de palavras e pedaços de frases que eu disse mas não deveria ter dito. Não fumo, acontece que me vem agora uma vontade imensa de ter um cigarro em mãos para chegá-lo próximo aos olhos, apenas pelo gosto do gesto.

Funciona como uma hipnose, depois as coisas vêm numa fila por ordem de irrelevância, daí me lembrei do seu aniversário apesar de você não ter se lembrado do meu, acho que isso conta alguma coisa. O que você teria dito se estivesse aqui? Teria dito que não, que não conta nada, mas teria dito em outro idioma, qualquer daqueles que você fala e não entendo. Mais de dois, nunca me lembrei ao certo, se me lembro. Você ria disso enquanto eu dizia que me sentia orgulhoso de você. Até onde me lembro era isso. Devia ter te ligado? Teria sido educado. Eu até ia, mas meu cachorro comeu meu dever de casa e minha avó morreu, de novo. Desculpe, estou tentando achar alguma desculpa plausível, mas não consigo, elas simplesmente acabaram pouco antes da grande chuva.

Por fim, se conselhos valem de alguma coisa, tenho um bom aqui. Se um dia encontrar alguém apontando para a sombra da própria mão que aponta projetada numa calçada rachada, ignore as farpas da sua enorme placa velha de Jesus Está Voltando e bata com bastante força na cabeça dessa pessoa. Bata, bata, bata repetidamente e não se esqueça: o ódio nas ações dispensa o uso de razões.

Observação: recuse a ajuda do velho segurando uma placa de O Fim do Mundo Está Próximo. Ele não sabe de nada, vai querer bater só por diversão, e isso não é divertido. É trabalho.

terça-feira, 10 de março de 2009

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Quando cheguei, já estava tudo destruído. Nem entrei para ver o resto, me virei do primeiro passo mesmo e saí de volta, fui ver de novo tudo o que tinha me acompanhado passivamente até aquele momento. Não bati a porta, deixei ela ir num leve impulso com a ajuda do vício das próprias dobradiças. Não bati a porta, ela é que se bateu, sozinha.

Sabe, hoje Deus falou comigo, e me disse que ele não existe. Devo acreditar nele agora, justamente agora, uma vez que nunca acreditei em toda a minha vida?

Nunca, nunca acreditei em toda minha a vida. Vida falsa em termos, não devo acreditar nela. Posso ter acreditado em partes dela, mas em toda? Toda é difícil. Há um medo estranho que sempre tive de rezar antes de dormir pedindo para sonhar que sou um pássaro e, ao fechar os olhos, acordar descobrindo que era uma estrela-do-mar sonhando que era um homem. Isso deve ser o tal medo de ser feliz sobre o qual os psicólogos gostam tanto de falar. Mas então, voltando àquele papo do sonho, me lembro de quando conversamos sobre aquela história do sábio chinês que já não sabia se tinha sonhado que era uma borboleta ou se ele era uma borboleta sonhando que era um sábio chinês. Você achava que aquela era uma reflexão besta e que melhor seria imaginar uma lagarta tendo pesadelos sobre ficar eternamente presa no casulo que ela mesma criou ao redor de si, mas eu nunca vou saber disso, pois você saiu de lá de cabeça baixa e sem dizer o que pensava, mascando um chiclete já velho, depois nunca mais nos vimos. Lembra?

Claro que não, você diria se estivesse aqui, se estivesse em qualquer lugar, mas não está, e agora fico eu cerrando os olhos, encarando o sol, queimando a retina para formar manchinhas que vão ganhando significados diferentes conforme desvio o rosto e pisco os olhos rapidamente, tendo como fundo essas bizarras e coletivas nuvens industriais. Vejo as manchinhas e penso sobre elas e vou interpretando de várias formas enquanto penso também sobre outras coisas. Sentia falta, claro, mas não saudade, afinal, quando eu cheguei já estava tudo destruído, eu nem sabia como era.

Eu sequer sei como se parece. Cara, eu não sei nem como se parece! Você tem noção disso? HAHAHAHAHAHAHAHAHA, essa é a melhor piada do mundo!!!

É por isso que durmo tanto sempre que posso e costumo procurar em qual direção está minha sombra quando ando por aí. Sobre aquele papo do sonho do sábio chinês da borboleta, esquece. A porta bateu sozinha, mesmo você não estando lá, mesmo com tudo já destruído desde antes de eu chegar, mesmo com o sol.

domingo, 1 de março de 2009

"Sideways Down" - The Frames



maybe I should just move along
but you know i'd draw blood if that's what you want

and you found someone who makes you laugh
who'd stick around, but that's not what you want

you slipped at the start
and dragged the whole thing sideways down
and everybody fucks up
it's just something that's been going round

and you found someone who said he'd stay
who'd give it all, but that's not good enough

now you're standing alone
and you're waiting alone 'cause you don't know what you want
and you're living alone
and you're wondering now, 'cause you don't know what you've done

maybe i should just disappear for now
then maybe you could see a little clearer now

and you found someone who makes you laugh
who'd stick around, but that's not what you want
and you blame it on your broken heart
but everyone who reaches out gets stung

now you're standing alone
and you're waiting alone 'cause you dont know what you want
and you're living alone
and you're wondering now, 'cause you dont know what you've done

maybe i should just move along

...