segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Lados


Petrarco aproveitou o feriado no litoral, caminhou no litoral.

Sentou-se na areia, viu o mar, mas não conseguiu chorar como gostaria, como queria, não estava acostumado. O sal lhe ardia os olhos e o vento secava possíveis lágrimas antes que tivessem qualquer chance de ser. Ventava muito naquele dia. Talvez devesse ter ido de manhã cedo. Concluiu que era muito preguiçoso, ou pouco prático, ou talvez simplesmente não dependesse dele.

Respirou maresia demais. Observou as meninas que jogavam frisbee. Ali, sentado, ouvindo o mar e o vento - e amaldiçoando o vento -, Petrarco questionou-se se as pessoas são mais receptivas a quem senta do lado direito ou do lado esquerdo delas. Não achou resposta e achou completamente irrelevante saber se há alguma, não via uso pra isso.

Pra que tanto?

Apenas ficar quieto, boa opção, um descanso pelo tempo possível. Seu coração, no entanto, parece não descansar jamais. Percebeu que era hora de ir quando seu dono se levantou e lhe puxou pela coleira.

6 comentários:

o n z e p a l a v r a s disse...

Tem uma crônica muito boa do
Fernando Brant com a mesma estrutura. O protagonista é o cão, mas apenas nos damos conta disso quando chegamos na linha final da história.

Está muito boa!

Marcos AM Ramos disse...

Ora, ora... Mais uma vez minha originalidade chega atrasada e torna-se tão-somente uma homenagem acidental a quem foi originalmente original.

mario elva disse...

Tinha nome melhor para esse cão não?

Vartan Melikian disse...

talvez todo esse problema existencial do cão venha do seu complexo devido ao nome. Eu sei do que estou falando. Me chamo Vartan.
por sinal, muito bom o texto.

PALAVRA EM FUGA disse...

Marquito, as afinidades estão no mundo sem mesmo que saibamos delas. Elas nos precedem. Parecer-se não é imitar. Duas originalidades que se parecem, identificam-se, simplesmente. Não se tornam menos originais. Não conheço o texto do Fernando Brant, mencionado por O N Z E P A L A V R A S, mas adorei revisitar um pouco da sensação (original!) de ler as crônicas do Sr. "PALOMAR", de Italo Calvino.

Marcos AM Ramos disse...

Obrigado pelas palavras reconfortantes, Betinha. Tentarei encontrar esta sensação que você revisitou, procurarei as crônicas mencionadas! Bjs